A matança do porco, ou antes, o «Méchoui»
Apesar de já por diversas ocasiões ter verificado que a maioria da comunidade portuguesa desconhece esta tradição quebequense, nós através da familia por afinidade do filho mais velho, podemos beneficiar de momentos muito agradáveis durante o segundo fim de semana de Agosto. É a época do Méchoui.
Assim, no dia 14 de Agosto fizemo-nos à estrada para mais 90 minutos de condução fixa a 120 Kms por hora (aqui as distâncias medem-se por tempo de viagem e não por quilómetros), sendo os últimos 10 a 15 minutos feitos por estrada de terra batida, em relativamente bom estado. Uma vez chegados ao destino, preparamo-nos mais uma vez para desfrutar dos imensos espaços deste país. Cada fazenda dista da outra pelo menos cerca de meio quilómetro. A estrada de acesso tinha sido previamente molhada de forma a evitar a formação de poeiras e o terreno circundante à residência principal é obviamente coberto de relva bem cuidada. Tudo à volta são férteis terrenos agrícolas (dos mais férteis do Québec) que nesta altura do ano, já estão limpos de qualquer vegetação, à espera dos primeiros frios que não tardarão a chegar. Apesar de ontem termos beneficiado de um magifico dia de Sol sem vento e com a temperatura a rondar os 26 º C, sem a mais pequenina brisa.
À medida que vão chegando, os convivas estacionam as suas viaturas sobre a relva, e se a maioria passará a noite em pequenas tendas, há quem prefira trazer a auto-caravana com TV por satélite, que sempre é mais confortável. Entretanto o casal de anfitriões ajudados por alguns familiares e amigos, desde as 9 horas da manhã que andam em grande azáfama. O bichinho é morto na véspera de acordo com todas as normas de segurança, pois a legislação assim o determina. Uma vez devidamente limpo, é atravessado por uma peça de metal e colocado sobre uma fogueira que é permanentemente alimentada por cavacas de madeira até cerca das 18 horas.
Enquanto os adultos se instalam, a miudagem dá uns mergulhos na piscina, joga uma partida de voleibol de praia, ou dá uns saltos nas duas camas elásticas disponiveis, há quem aproveite para simplesmente passear por entre os infindáveis espaços que até há bem pouco tempo estavam cobertos de milheirais, trigo ou aveia, e nesta altura já se encontram completamente limpos à espera das primeiras neves que brevemente os cobrirão até fins de Março do próximo ano. Se nos afastarmos umas centenas de metros do local, o silêncio á nossa volta é total.
O bichinho entretanto, após cerca de 9 horas a rodar no espeto sobre lume mais ou menos fixo, está pronto. Num outro espeto ao lado, vão sendo igualmente assadas batatas, enroladas em papel aluminio, que, com toda a espécie de saladas, e muita cerveja, servirão para acompanhar o delicioso manjar que todos, grandes e pequenos esperam.
A noite entretanto caiu, o local onde o bichinho fora assado é agora um enorme fogo de campo, à volta do qual todos os convivas se instalam nas cadeiras que tiveram o cuidado de trazer de casa, eu observava que à medida que as pessoas chegavam, colocavam umas enigmáticas peças, dentro dum pequeno contentor. Como não sabia do que se tratava, perguntei o que era, ao dono da casa. No caminho todos tinham comprado algumas peças de pirotecnia. Como lhe disse que não sabia da existência desse hábito nem onde se adquiriam, o René descansou-me dizendo que não valia a pena preocupar-me, pois pelos seus calculos já deveria ter fogo de artifício para pelo menos uma hora.
Quando o relógio já passava da meia-noite e alguns mais pequenos já dormiam nos braços das jovens mães ou das avós, à volta da enorme fogueira, numa límpida e calma noite de Agosto por entre um céu limpo e cheio de estrelas, e sempre com a presença bem lá no alto, da luminosidade da Estação Espacial Internacional, ali a cerca de duzentos metros, alguns homens atarefavam-se na preparação do fogo de artifício, que efectivamente durou mais de sessenta minutos. A maioria passou a noite no local. Nós voltàmos a fazer-nos à estrada e preferimos dormir no conforto da nossa casa, onde chegàmos cerca das três horas da manhã de Domingo. Muitos dos habitantes da grande cidade da nossa comunidade não conhecem o termo «méchoui»!
J.L. Reboleira Alexandre

































