Crónica do Québec (Canadá) – Um país de Imigrantes

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O Canadá, segundo país do mundo em termos de superfície, é o resultado de duas vagas de imigração relativamente recentes, dos dois países da Europa que lhe deram origem: aFrança e a Inglaterra, oficialmente considerados os dois povos fundadores, daí o bilinguismo  existente. De forma alguma estamos a esquecer os povos nativos, que desde a pré-história povoam estas terras, mas a sua existência é só por si tema para outras crónicas. Estes povos estavam e estão de tal forma dispersos, que o país que hoje conhecemos nunca seria o mesmo, se não tivesse existido a colonização. Basta mencionar que apenas no pequeno território do Nunavut, resultante da recente cisão dos Territórios do Noroeste, coabitam 11 linguas oficiais, incluindo o Francês e o Inglês.
Foi em 1534 que o explorador francês Jacques Cartier acostou nestas paragens. Trata-se do primeiro europeu depois dos Vikings, a pisar a parte continental do Canadá. A presença dos pescadores ibéricos verificava-se sobretudo na parte insular da ilha de Terra Nova, ou no extremo norte do Québec, na zona de Gaspé, onde a presença dos nossos comerciantes está bem documentada no museu dedicado à pesca do bacalhau.
A colonização, no entanto, inicia-se apenas com Samuel de Champlain em 1608 nos vales do rio São Lourenço, na zona onde está hoje localizada a cidade de Québec. Foi apenas depois da conquista inglesa, em 1763, que se dá início a uma forte colonização por parte dos britânicos. Posteriormente, e por efeito da revolução americana, dá-se o êxodo de grandes grupos de colonos legalistas, da Nova Inglaterra nos Estados Unidos, que consolidam assim a maioria anglófona no Canadá.  Em termos de percentagem poderemos dizer que hoje 70% da população tem como língua materna o Inglês, contra 30% de língua materna francesa.
Nos finais do século XVIII dá-se a primeira vaga de imigração de povos afro-americanos, geralmente escravos legalistas, a quem os britânicos prometiam terras e liberdade a todos os que ocupassem as colónias inglesas por forma a poderem lutar contra as ideias independentistas dos Estados Unidos. A maioria chegou ao Norte do Continente após dificeis e longas viagens de comboio, e conseguiu efectivamente libertar-se  da escravatura. No entanto, na altura de se estabelecerem verificaram que as melhores terras já estavam na posse dos colonos brancos. Durante muitos anos a percentagem de imigrantes de ascendência africana era diminuta, e apenas muito recentemente, se verifica uma imigração massiva sobretudo com origens na Jamaica (língua inglesa), Haiti (língua francesa) e alguns países africanos de línguas francesa (países do Maghreb, costa Sul do Mediterrâneo, sobretudo) e inglesa.
A segunda vaga de imigração, nos finais do século XIX, é de origem chinesa e japonesa, que tiveram como objectivo a construção das linhas de caminho de ferro indispensáveis ao desenvolvimento do país. Eram-lhes geralmente atribuidos os trabalhos mais perigosos e contam-se por muitos milhares os que aí perderam a vida. As relações entre estes povos e o governo federal foi sempre complexa devido à existência de um racismo institucionalizado, e ao receio de que estes povos retirassem postos de trabalho aos habitantes brancos. Na sequência da Segunda Grande Guerra e após a derrota do Japão, o Canadá como país vencedor, ordenou o internamento de 20 mil cidadãos canadianos de origem japonesa, sem sequer se ter preocupado em saber qual a sua opinião sobre a mesma. Ainda hoje, descendentes destes habitantes do país lutam pelo direito a uma justa indeminização em virtude das injustiças infligidas aos seus antepassados, apenas e somente devidas ao facto de terem nascido numa das nações vencidas na guerra de 1939-1945.
Hoje o país é uma Monarquia Constitucional. Existe uma representante oficial de Elisabete II, designada por Governadora Geral,  que não é eleita por sufrágio directo,  mas sim designada pelo primeiro ministro federal,  que é quem na realidade detém as rédeas do poder. A Governadora actual é a Senhora Michaelle Jean, antiga jornalista de origem haitiana, e o Primeiro Ministro Federal, em representação do partido Progressista Conservador (um nome de partido que nos faz confusão desde a nossa chegada a Montreal em 1976…) é o senhor Stephen Harper, eleito por votação directa e universal.

J.L. Reboleira Alexandre

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