Com o aparecimento da internet e consequente liberalização das comunicações, as distâncias entre os países e os povos, são cada vez mais curtas. Apesar disso, sempre que falamos com os nossos contactos em Portugal, (o aparecimento destas crónicas vem dum desses diálogos) nota-se da parte dos nossos interlocutores um quase total desconhecimento da sociedade canadiana. Somos sempre imaginados como alguém que vive lá para cima dos Estados Unidos, perdidos algures no meio dos esquimós, entre a grande nação americana e os gelos eternos do Pólo Norte. No entanto, os pontos de convergência entre os dois mais ricos países do continente americano são residuais.
A sociedade canadiana é muito liberal, mas extremamente ciosa do respeito e do cumprimento das suas leis. Devido à forte presença do Estado em todos os domínios, desde a saúde até ao ensino, passando pelo apoio à pequena infância, é praticamente impossível viver ilegalmente neste país. O recente caso da deportação da família Sebastião para os Açores, confirma tudo o que acabamos de mencionar. Tinham partido de São Miguel, da pequena aldeia de Rabo de Peixe, há cerca de 10 anos, numa altura em que ainda não se falava de crise em Portugal, mas, para os habitantes dos Açores, situados a meio caminho entre a América e a Europa, a opção da partida para o Novo Mundo está sempre presente. Diríamos mesmo que não há familia açoreana que não tenha parentes do outro lado do Oceano. Para o povo açoreano, independentemente do seu nível de escolaridade, emigrar é a coisa mais natural, e muitos deles, ao fim de poucos anos, e ao contrário dos continentais, cortam totalmente os laços afectivos com as Ilhas.
Agora, mais do que nunca, é dificil obter-se o estatuto de imigrante no Canadá. A actual presença em Otava dum governo conservador, apenas aumenta o grau de dificuldade àqueles que pensam estabelecer-se neste maravilhoso país. Ainda há pouco tempo, o nosso Primeiro Ministro Federal, senhor Stephen Harper, anunciava na reunião do G20 em Cannes, na Côte d‘Azur, e depois de saber que a China tinha aberto a sua moeda às naturais flutuações dos mercados cambiais, que os contribuintes canadianos não estavam disponíveis (palavras suas) para ajudar a Europa a sair da grave situação em que se encontra . A crise por que está a passar o Velho Continente nesta altura é em tudo similar àquela por que passou o Canadá no início dos anos noventa do último século, e foi através de duras medidas de carácter económico (o sector público aqui como aí foi o mais penalizado) que o país ultrapassou essa fase difícil. Por isso, é opinião do nosso governo, bem como dos restantes membros do G20, de que devem ser os países ricos da Europa, a Alemanha e a França, a apoiar os povos dos países limítrofes, conduzidos para uma situação de autêntico caos financeiro pelas sucessivas irresponsabilidades dos seus últimos governantes.
Voltando ao título desta crónica, e para todos aqueles que são tentados a abandonar Portugal, no meio duma conjuntura que cada vez mais se assemelha àquela que nós vivemos em 1975/1976, e que, ou por razões familiares ou outras, optam pelo Canadá, somos da opinião que a melhor forma de obter o visto de imigrante, que permite o estabelecimento nestas paragens, é através do cumprimento de todos os regulamentos que são impostos desde o início da aventura. Sabendo que o Canadá não exige visto para os turistas portugueses, a pior coisa a fazer é, uma vez chegados, e depois de expirado o normal prazo de seis meses para «visitar» Toronto, Montreal ou outra grande cidade, se irem deixando ficar e entregarem a sua situação nas mãos dos chamados «advogados de imigração».
Em vez disso devem optar por tentar obter junto de algum comércio do local onde estejam, o necessário contrato de trabalho em profissões específicas ligadas à comunidade de que fazem parte. No caso dos nossos compatriotas, sabemos que especialistas em pastelaria (todos os canadianos gostam de pasteis de nata), charcutaria, ou cozinha típica portuguesa, continuam a ser requisitados, devido à escassez destes profissionais. Uma vez na posse deste documento, há que regressar ao país de origem, deixando aqui algum amigo ou familiar que vá dando seguimento ao processo, e sabemos por experiência própria que ao fim de algum tempo o necessário visto de entrada é obtido. Depois vem a parte mais dificil, sobretudo para nós, continentais, que é o habituar-se a um clima e a um modo de vida que estão nos antípodas daquilo a que hoje, a grande maioria dos habitantes de Portugal estão habituados. Uma vida de trabalho e de poupança, com uma visão a longo termo, totalmente diferente da vida na Europa. Os casos de potenciais emigrantes que aqui chegam todos os dias, e que ao fim de alguns meses, dois ou três em média, voltam aos seus países, desiludidos, ou porque o clima é muito duro, ou porque o café da esquina não tem o mesmo ambiente que lá na «terra», ou até, porque o maldito patrão pensa que somos escravos, fazem parte do nosso dia a dia, e lidamos com eles mais do que seria normal esperar. Até, aquelas e aqueles que parecem mais seguros de si à chegada, por vezes nos surpreendem com a decisão de abandonar uma aventura, que poderia ser maravilhosa, bastando para que tal aconteça, uma pequena dose de coragem para enfrentar os primeiros escolhos da caminhada.
Trata-se tão sómente das dificuldades iniciais, derivadas da adaptação a novos costumes, novas línguas, novas formas de viver. Parafraseando um chefe da diplomacia portuguesa em Paris que, há pouco tempo, interpelado por um jovem luso que não entendia o porquê dum povo descendente de Vasco da Gama e Cabral, ser obrigado a passar ciclicamente por tantas dificuldades, respondeu:
-os portugueses descendentes de Gama e Cabral ficaram espalhados pelo Mundo. Os outros nunca partiram. Concluindo, qualquer um, numa fase dificil da vida, pode pensar em emigrar, mas não são todos, que se tornam emigrantes!
J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca
































