Costas largas

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O Dr. Fernando Costa, há dias, surgiu com destaque nos meios de Comunicação Social. Deveu-se isto à sua exclusão da lista apresentada pelo PSD para as eleições legislativas de Outubro e à forma como reagiu a tal afastamento, preterido por Maria da Conceição Jardim, actual vereadora e deputada.
Talvez seja interessante comentar algumas declarações deste histórico dirigente do principal partido do (ainda) governo, em diversas entrevistas e na página pessoal do Facebook. Comecemos pelas contradições: a 31 de Julho, refere ter sido proposto e apoiado «por larga maioria» na Distrital, porém a 2 de Agosto já essa aprovação naquela instância passa a «unanimidade» o que, convenhamos, não é bem a mesma coisa, mas adiante… A dor que o possui leva-o a confessar num jornal económico: «Há uma mágoa. Eu disse ao presidente do partido que estava magoado», assegurando dois dias depois: «Não estou magoado por me terem excluído da lista». Enfim, a intensidade do sofrimento pode manifestar-se por diferentes maneiras (até antagónicas), que devem contudo ser respeitadas…
Em termos substanciais, o Dr. Fernando Costa lamenta-se por ser «o único presidente de uma distrital condenado a sair da lista de candidatos». Podemos compreender a angústia pela discriminação mas infere-se daqui, de forma implícita, existir nas suas hostes uma espécie de quota por lugar cativo que se sobrepõe ao mérito intrínseco. Falando do seu partido, o Dr. Fernando Costa não poupa nas palavras contundentes, ao denunciar uma «tentativa de assassinato político» e «um rol de infâmias» vindas sobretudo do ministro do Ambiente, Moreira da Silva, de quem continua «à espera de um pedido de desculpas». Homem experimentado nestes meandros, talvez fosse pois mais prudente o Dr. Fernando Costa esperar sentado por uma reparação que não virá, até porque, não obstante ilibar o presidente do partido de «qualquer responsabilidade» ou, pelo menos da «maior responsabilidade», não deixa de lhe lançar uma farpa, considerando que «também podia e ele sabe quanto eu gostava que ele pudesse dar uma ajuda a resolver este problema. Não pôde». Ora, não é a primeira vez que Passos Coelho apouca este seu indefectível apoiante. Queixando-se de ser vítima dum «delito de opinião» que o levou «a sofrer sanção tão grave e com esta expressão de voto na Comissão Política Nacional (18 contra, 1 a favor e 2 brancos)», o Dr. Fernando Costa revela-se «indignado com os motivos apresentados para ser excluído: estar contra a privatização da Valorsul e EGF e as políticas de água», confirmando assim a fúria privatizadora do governo que apoia, o qual se recusa a retirar ilacções dos resultados desastrosos sobre a passagem para a esfera privada da água, monopólio natural, e do tratamento de resíduos.
Apesar de sentir «um mau estar por parte de várias pessoas» que o querem ver pelas costas e o veem como alguém com as costas largas, o Dr. Fernando Costa reitera querer «morrer como Autarca» (nesta cidade?) e que nada abala as suas convicções ou o impede de «defender a social-democracia e a coligação». Só que ambas estão dominadas pelo neoliberalismo agressivo. O que é facto é ter-se o Dr. Fernando Costa demitido de director de campanha em Leiria. Um comentário seu citado numa rede social, explica: «Em política não há gratidão, nem dignidade, nem respeito por quem lhes dá tudo! (…) O verdadeiro mundo de hoje é pior do que o da selvajaria (e já chegou às Caldas)».
Dito com tanta convicção e conhecimento de causa, quem sou eu para desmentir este grito de alma?

José Carlos Faria
jcrffaria@gmail.com

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