Pelo título pode pensar-se que “sei” o suficiente sobre o assunto para escrever um artigo na Gazeta. Não é verdade. O artigo é meu baseado na imagem que tenho do problema, mas a essência do seu conteúdo é inspirada nas opiniões de familiares e amigos ligados ao ensino há muitos anos. Pela minha parte estive ligado à Formação Profissional, o que inegavelmente me ajudou a “juntar as pontas” do assunto.
Vou procurar valorizar o essencial, em detrimento do acessório: a qualidade do ensino.
Quando algo corre mal num Serviço Público, vemos as respectivas classes profissionais em manifestações e nos órgãos de comunicação social. No ensino têm-se visto os Professores na rua pelas mais variadas razões. Mas quem são as principais vítimas de um ensino desqualificado? Os miúdos e os jovens! E quantas vezes vemos estes descerem à rua com os respectivos pais, a contestar as carências e os podres deste importantíssimo serviço público? Os pais, mesmo que queiram, com excepção daqueles mais conhecedores do assunto, raramente põem em causa a qualidade do ensino na sua essência – confiam em geral na Escola como um todo, e às camadas mais jovens duma forma geral, faltam referências e sentido crítico.
E assim devagar, devagarzinho e pela calada, a qualidade do nosso ensino público tem-se degradado ao longo dos anos, servindo de cobaia a sucessivos governos, com experimentalismos e mudanças muitas vezes infundadas.
Porque é que surgiu esta vaga de Colégios Privados?
Porque é que há hoje pais e jovens a defender convictamente a qualidade global dos novos espaços de ensino, sem quererem mudar para o antigamente?
Porque é que há jovens que mudaram para os colégios, hoje com melhores resultados escolares, e que têm como única explicação um maior nível de exigência?
Não é por acaso. Convicta ou inconscientemente, quando se pode, muda-se para melhor.
Só que o problema de fundo não se resolve por Decreto ou Medidas Administrativas. Ocuparam o nosso espaço porque nos “pusemos a jeito” – não foi uma inevitabilidade. E naturalmente fizeram do ensino um negócio com o dinheiro dos contribuintes, quando este deveria ser uma das principais preocupações dum Estado Democrático e responsável.
Enquanto na sua essência, os privados que são pagos pelos pais que podem fazê-lo, seleccionam os alunos que querem admitir, no público hoje misturam-se indiscriminadamente os jovens com aproveitamento, com jovens socialmente e cognitivamente muito problemáticos, sem professores e auxiliares preparados para o seu acompanhamento específico.
Grande parte dos professores na escola pública, passam mais tempo a tratar de burocracias e papelada, do que a dar ou a preparar as aulas.
Quais os critérios pedagógicos e científicos para invadir algumas escolas com os Magalhães e os quadros interactivos? As crianças “coitadinhas” precisam de aprender num espaço lúdico, ou os “pedagogos” já se esqueceram de que o ensino tem uma componente “coerciva” não desprezível de todo?
E quanto aos Professores? Onde está o respeito e o prestígio de outros tempos, não tão distantes quanto se possa imaginar?
A instabilidade do corpo docente com a não progressão na carreira!
Uma avaliação dos professores na minha opinião tão necessária, feita em moldes consensuais e inspirada em modelos que já deram provas noutros países!
A falta de autoridade emedo incutidas indirectamente pelas regras de repreensão, punição e avaliação! Chega ao ponto como sabemos, de haver pais a “pedir explicações” aos professores, tal é a imagem que estes têm junto da opinião pública.
Na Bordalo Pinheiro que conheço melhor, há belíssimas oficinas mal aproveitadas e imensas salas vazias!
Enquanto isso, no Agrupamento Bordalo Pinheiro – Santa Catarina, há professores que para fazerem horário completo são obrigados a andar de cá para lá entre as duas escolas!
Não adianta as soluções formais que se venham a encontrar para este diferendo entre o público e o privado desde que se cumpra a Lei, se não pararmos para pensar no problema de fundo. Se não soubermos tirar as devidas conclusões (e eu tenho dúvidas que o actual Ministro consiga fazê-lo), juntando pessoas com experiência e cabelos brancos (não necessariamente no sentido literal do termo) independentemente da “cor política”, para se encontrar um caminho de excelência para o ensino público, continuarão a aparecer estes e outros GPS(s), a ocupar um espaço que por natureza não é o seu.
Escola Pública de qualidade para todos!
Escola Privada para quem quiser e puder pagar!
Carlos Mendonça
































