Que um ou outro jornalista da Gazeta mais novo não saiba que esta edição da Feira dos Frutos foi a 28ª ainda compreendo, mas dar como título a uma notícia da penúltima edição: “Segunda edição da Feira dos Frutos…”, francamente…
O esforço de todos os intervenientes, produtores agrícolas, associações de agricultores, técnicos e profissionais do sector em geral, comércio local, Direcção Regional da Agricultura e Câmara Municipal vem de há muitos anos. Seria injusto não o lembrar aos mais novos (e aos mais distraídos) que nos lêem.
Desde sempre os técnicos envolvidos, de entre os quais me apraz destacar o meu grande amigo Eng.º Amado da Silva falecido há 10 anos, fizemos os possíveis e os impossíveis para fazer da feira, para além dum espaço de festa e de convívio, um local de mostra do melhor que se produz no oeste e um local de formação e troca de experiências em novas técnicas e tecnologias, de regadio, de fertilização, de conservação, de mobilização do solo, de associação/ comercialização, etc. Desde sempre contámos com a presença de experientes convidados nacionais e estrangeiros, com os quais muito aprendemos.
Os tempos mudaram e muito. Hoje somos de tal forma bombardeados com informação, que muitos imaginam que o conhecimento está ao alcance dum “click”. Pura ilusão. Por cada porta que se abre ao saber, muitas mais ficam por abrir.
O mundo é dinâmico, e a “teoria do caos” segundo a qual o bater de asas duma borboleta pode provocar um tufão do outro lado do mundo, torna cada vez mais complexo o trabalho dos cientistas na busca das causas dos distúrbios ambientais, das novas doenças, do surgimento das super-bactérias, etc.
Mas voltemos à Feira dos Frutos.
Tiveram lugar diariamente “Sessões Temáticas” às 17:30 que abordaram temas como Segurança no Trabalho, Projectos e Financiamento, Agricultura Biológica (duas sessões), Partilha de Experiências, Divulgação de Produtos e Segurança Alimentar. Tudo temas importantíssimos e do interesse dos produtores e da população em geral.
O esforço feito o ano passado e este pela Coopsteco ao promover o “Consultório Técnico”, assim como as Sessões Temáticas deste ano que contaram com o apoio do COTHN, foram sem sombra de dúvida um contributo muito importante para a formação e a transmissão de experiências vivas entre produtores e consumidores. Lamento (lamentamos) que só os espectáculos tenham sido profusamente anunciados pelos órgãos de comunicação social.
A Gazeta das Caldas soube em duas edições, dar e muito bem, o devido destaque ao êxito que foi a feira do ponto de vista da afluência de público tanto à feira em si como aos espectáculos e eventos lúdicos com páginas inteiras repletas de fotos. Mas o verdadeiro jornalismo não é só isto. Tem sentido crítico, e deve também dar cobertura às iniciativas técnicas e culturais.
A todas as nove Sessões Temáticas a Gazeta dedica numa só coluna 17 linhas e meia. É evidente que a notícia não se mede pelo tamanho mas por critérios de conteúdo/ importância. E aqui falhou redondamente!
Dou apenas como exemplo da importância destas sessões, a que decorreu no dia 20 de Agosto sob o tema “Agricultura Biológica: perspectiva do consumidor”, onde se frisou a importância para a saúde da população e do planeta, da utilização de métodos de produção sem o recurso a venenos perigosíssimos monopólio da Bayer e outras. O Sr. António Martins deu o seu exemplo pessoal da Agricultura Biológica que pratica com belíssimos resultados, duma forma brilhante. Só lamento (lamentamos) que a Gazeta e os nossos leitores, tenham perdido este “espectáculo”.
Sobre as admissões ao ensino superior, foi noticiado que para o curso de Agricultura Biológica da Escola Superior Agrária de Coimbra, não houve nenhum candidato. Porquê? A resposta está à vista: uma gigantesca falta de conhecimento nas famílias portuguesas sobre a importância para a saúde humana e do planeta deste tema, para além das saídas profissionais já num futuro muito próximo.
Espero que para a 29ª Feira dos Frutos, o critério jornalístico da Gazeta das Caldas se reparta duma forma equilibrada, entre o lúdico e a tão necessária cultura do conhecimento.
Carlos Mendonça
































