Correio dos Leitores – “Raulizem-se!”

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O Liceu das Caldas – hoje Escola Secundária Raúl Proença – celebra este ano o 50º aniversário. Criado nos míticos edifícios do Parque D. Carlos I e transferido, em 1984, para o Bairro dos Arneiros, foi casa para milhares de nós, que, por esta ocasião, partilham memórias e, sobretudo, refletem sobre o que ainda hoje trazem em si dos que são aquela escola: professores, funcionários e alunos/colegas. No fundo, o que é que fica da passagem por esta escola?
No meu caso, um entre milhares, recordo os seis anos ali vividos, entre 1987 e 1993, em plena década cavaquista e logo depois de Portugal ter aderido à CEE e de, em 1989, se ter assistido à queda do Muro de Berlim. (…)
Cumpria-se, nesse tempo idílico, uma certa visão da história assente na ideia de progresso entre gerações, numas Caldas em que o cinema era ainda no Estúdio 1, atrás do Tribunal, passando depois a ser também no Delta 1 e no Delta 2, no centro comercial da Rua das Montras, em que a praça do peixe era ainda na Praça 5 de Outubro, em que a livraria 107 ainda existia, bem como a biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian, nos pavilhões do Parque; em que a A8 ainda não existia e a linha do Oeste ainda funcionava bem; numa cidade em que se compravam palmiers quentes numa fábrica de bolos na Rua Cova da Moura quando se regressava da Green Hill, da Dreamers, do Solar da Paz ou do Sítio da Várzea e, no Verão, se passava as noites na Feira dos Frutos e da Cerâmica, no Parque. No centro da vida, nessa época, estava o Liceu. Os Professores, magníficos. Digo e repito, sempre: nunca tive professores tão bons como os meus professores de Liceu. Como esquecer a Professora de História, Cândida Calado? Ou o Padre Eduardo? Ou o Professor de metalomecânica, Antonino? Ou as Professoras de Filosofia, Maria do Céu Prudêncio e Olga Rocha? Entre tantos outros. E, naturalmente, os colegas que, amiúde, recordo com um sorriso passagens mais pitorescas de episódios vividos em comum com a Ana Paula Gorgulho, a Ana Sofia Broco, a Patrícia Sá Quintas, a Sara Velez, a Natacha Narciso, a Mafalda Sousa, o Carlos Conceição, a Magda Marisa, a Célia Marques, o José Félix e as, ainda hoje amizades-mestras, Sandra Mendes, Júlia Almeida e Estela Batista Costa. Por isso, em 2014, quando a Raul Proença ocupou lugar cimeiro no ranking das melhores escolas portuguesas, nenhum de nós ficou surpreendido e fomos dizendo uns aos outros: claro! Era expectável, porque esta escola vai além dos critérios dos rankings, que, num ano, reconheceu um trabalho que não é de um ano, é de uma vida, é de gerações.
E o que fica? Fica, antes mais, a aprendizagem maior: o gosto pelo saber e por querer saber mais, com exigência, método e entusiasmo. Fica o mote “Rigor e Rasgo”, que me foi transmitido nas longas sessões de preparação para os exames de acesso à universidade. Ficam os sorrisos dos professores e o seu esforço, a empurrar-nos para que chegássemos mais além na leitura do mundo e da vida. Ficam as ferramentas para ir buscar saber e para interpretar enunciados (dos testes e da vida). Fica um estilo, um método, as bases. Sólidas e inspiradas, pela sorte de uma comunidade empenhada em nós, alunos. Fica uma matriz identitária. Fica inscrito no nosso ADN, como se repetiu na sessão solene que celebrou os 50 anos da nossa escola. Por isso, aqui fica o apelo a todos os que frequentam ou frequentarão a Raul Proença: “Raulizem-se!”. E nunca mais serão os mesmos. ■

Maria Teresa Paulo

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