Correio dos Leitores

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Uma vergonha nas margens da Barrosa na Lagoa de Óbidos

Depois de um passeio pedonal pelas margens da Barrosa, Lagoa de Óbidos, concelho das Caldas da Rainha, vim indignado pelo cenário criminoso a que assisti. Senti vergonha de fazer parte de um país onde a noção elementar de protecção da natureza é esmagada pela insensibilidade de pessoas que cometem atentados contra toda uma sociedade.
Anexo fotos da vergonha nas margens da Barrosa, onde algum sucateiro, ou outra desprezível ser humano, de há dois meses para cá despeja impunemente, todo o lixo que lhe sobre depois de retirar os materiais íteis ao seu negócio.
O criminoso que faz isto deveria levar prisão e não multa porque as multas são pagas por quem tem dinheiro.
Já não basta a actuação indigna de uma autarquia como a das Caldas da Rainha despejar para a lagoa as lavagens da “central” de tratamento de águas das Águas Santas, como alguém se lembrar de fazer das margens da Lagoa uma lixeira.
Ainda telefonei para a Câmara Municipal das Caldas para dar o alerta, mas, a quem me passaram o telefone parecia tudo menos competente para atender um telefone.
A Câmara das Caldas que ponha os olhos no concelho de Óbidos.… Aprendam os deputados camarários… andem pela lama para cheirarem a região e deixem de cheirar os gabinetes do ócio e do desleixo.
Este concelho das Caldas é porco, desleixado, vergonhoso. Basta olhar a cidade e vimos logo (…) a decadência de quem já está há anos a mais no poder cercado por um coro de quem quer garantir a continuidade do tacho.
Gostaria que publicassem as fotos para que ganhem vergonha os autores e os responsáveis por fazer cumprir as leis.

Vítor Pires

Sobre as vítimas do incêndio de 6 de Fevereiro

Se houvesse um pouco mais de consciência social, talvez esta tragédia que vitimou uma família de três pessoas pudesse ter sido evitada.
Convivi nos últimos anos com as vítimas masculinas do incêndio, João pai e João filho, e posso afiançar que eram pessoas do melhor que se pode encontrar neste inicio de século XXI. Eram pessoas humildes e pacatas, que governavam as suas vidas sem prejudicar ninguém.
Diariamente, após oito horas de trabalho, quase sempre na companhia do filho, o João Pai fazia voluntariado na associação “De Volta aCcasa”, ajudando com trabalho físico ao auxílio de pessoas, que como ele e a sua família necessitam de vários tipos de ajuda, pois aquela associação, além de fornecer refeições  permitia a lavagem de roupa, cuidados de higiene íntima e até morada postal para quem necessitasse, bem como outras acções de auxílio. Estes serviços eram possíveis graças ao trabalho de pessoas como o João, que se disponibilizam para o voluntariado há muitos anos, sem necessidade de serem alertados para a existência de qualquer Ano internacional.
Eram pessoas com consciência social, a mesma que talvez tivesse possibilitado que esta tragédia não acontecesse. As três senhoras funcionárias do serviço social da Câmara das Caldas da Rainha que se deslocaram à Mata do hospital para observar se as refeições ainda são distribuídas aos necessitados, após o encerramento do espaço onde a associação funcionava, com certeza não sabiam das condições de vida desta família, mas eu estava presente e não vi nenhum tipo de intervenção social; quanto muito, uma observação de três profissionais e nada mais. No entanto, se durante os anos que a Associação funcionou, um profissional de acção social tivesse acompanhado semanalmente “in loco” o trabalho realizado pela associação, em que condições e por quem, provavelmente teriam tido o devido conhecimento da verdadeira realidade de vida desta família. E não estamos a falar de alguém à margem da sociedade, mas de um trabalhador que apenas procurava as melhores condições de vida possíveis para a sua família.
Talvez um pouco mais de empenho, senão voluntário, pelo menos profissional, possam no futuro prevenir e minorar este tipo de acontecimentos. Basta para isso que os profissionais dos serviços sociais da autarquia executem mais trabalho no terreno, que deixem os seus confortáveis escritórios e desempenhem as suas funções junto das pessoas realmente necessitadas, pois muitas vezes assisti a pessoas que procuravam os serviços da associação encaminhadas pelos serviços sociais da autarquia, a mesma que agora decidiu retirar o espaço físico onde a associação funcionava justificando aos cidadãos desta cidade e até nacionais a sua decisão com falsas razões
Estou em crer que não será por falta de pessoal que tais acções de acompanhamento não são executadas, pois como já referi anteriormente, para uma mera acção de observação foram destacadas três profissionais, embora a dita iniciativa não tenha sido explicada nem a presença das referidas profissionais, pois não contactaram nenhuma das pessoas que recebiam a refeição nesse dia ou executavam trabalho voluntário.
Perderam-se vidas lamentavelmente. Importa atribuir as justas responsabilidades a quem de direito, um caso de justiça que se quer justa. Como justas se querem as consciências e erradicadas as más politicas que decidem o fecho de instituições voluntárias de auxilio em pleno Ano Internacional de Voluntariado num estado que se proclama social.
Dentro de poucos dias surgirão outras notícias desagradáveis e este incêndio será esquecido, assim como as suas vítimas. É a lei da morte. Mas muito mal vão as vidas que fazem lei de não darem a devida atenção a casos como o desta família.

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António da Conceição Magalhães

P.S.- Durante o mês de Janeiro, a associação distribuiu as refeições de almoço na Mata do Hospital Termal, em local devidamente apropriado para o efeito. Durante este período, nunca qualquer entidade de segurança foi chamada ao local para pôr ordem em qualquer situação ilegal verificada pelos utentes do serviço, e o local utilizado foi sempre deixado mais limpo após o uso pelos utentes. No entanto, a direcção do Hospital achou por bem proibir a actividade da associação neste local a partir de 1 de Fevereiro sem uma explicação válida, num local que supostamente está  aberto e ao dispor de todas as pessoas que aí desejem tomar as suas refeições. Vá-se lá compreender a razão desta arbitrariedade.
Termino com uma citação do imortal poema “If”, de Rudyard Kippling, que espero sirva de incentivo aos voluntários desta associação neste período conturbado da sua existência:

“…Se és capaz de sofrer que o ideal que sonhaste,
O transformem canalhas em ratoeiras de tolos,
Ou de ver destruído o ideal de uma vida inteira,
E construi-lo outra vez com ferramentas gastas,
Se não pode abalar-te o amigo ou inimigo,
Se todos contam contigo e não erram as contas….
Se assim fores serás um homem.”

Quem assim procede está no caminho certo.

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