Contraditório, pluralidade e liberdade: pilares essenciais da democracia

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David Vieira
Técnico de Comunicação

A democracia não se sustenta apenas no direito ao voto ou na liberdade de expressão, assuntos que tanto temos ouvido falar nos últimos tempos. Sustenta-se, também, na capacidade de cada cidadão pensar por si próprio. E isso só é possível se tiver acesso a uma informação plural e livre, que ofereça as posições e as versões de cada história. O jornalismo tem aqui uma responsabilidade central. Não basta informar, é preciso ouvir todas as partes envolvidas num assunto e apresentar ao público essas diferentes perspetivas. Só assim ele pode formar opinião com (mais) consciência.

O contraditório não é um luxo, nem um favor que se faz a quem pensa diferente. É a essência do jornalismo ético e uma condição para a verdade possível. Realço que o contraditório não é o direito de resposta, que surge depois da publicação. O contraditório é o esforço prévio de procurar vozes diversas e colocá-las em diálogo. É esse exercício que dá equilíbrio a uma notícia e impede que ela seja apenas a versão de um dos lados.

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Como explica, de forma simplista, a teoria do agenda-setting, os media não dizem às pessoas como pensar, mas sim no que pensar. Ora, se só ouvirmos uma versão dos factos, estamos a limitar o nosso horizonte e a empobrecer o debate público. E quando o debate público empobrece, a democracia adoece. Já aqui escrevi que cidadãos informados são melhores cidadãos. Mas cidadãos informados com contraditório são cidadãos mais críticos, mais participativos e mais conscientes das suas escolhas.

Ouvir apenas uma parte deixa-nos coxos de conhecimento. O contraditório obriga-nos a confrontar ideias, a questionar certezas e a repensar posições. É um exercício que fortalece a liberdade, porque a liberdade também se constrói a partir do confronto com a diferença. Uma democracia sem contraditório é uma democracia frágil, porque deixa de ser um espaço de diálogo e passa a ser apenas um eco de vozes únicas.

No jornalismo regional, o contraditório assume um papel ainda mais decisivo. É na imprensa local e regional que se discutem temas concretos e que nos são mais próximos, como as decisões camarárias, os eventuais conflitos de interesse, ou os projetos comunitários. Mais uma vez, ouvir todas as partes não é apenas um dever jornalístico é uma ferramenta de cidadania.

A imprensa livre precisa da pluralidade. E a sociedade precisa de imprensa livre para poder pensar.

Isso é pensamento crítico.

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