Consensos

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Foi muito elogiado o consenso que se gerou entre as forças políticas representadas na assembleia municipal das Caldas da Rainha para fundir a ADIO, a ADJ e a Culturcaldas, que são as associações que, respetivamente, gerem a Expoeste, o Centro da Juventude e o CCC.
É certo que é mais fácil gerar consensos na política local do que no jogo político nacional. Nas autarquias, os problemas estão mais próximos das pessoas e as respetivas soluções, por vezes, não dependem de qualquer ideologia política. Já no que toca à política nacional, as ideologias impõem uma diferença à partida que, na maior parte das vezes, se torna intransponível. A história recente mostra-nos, infelizmente, que só se consegue ultrapassar a barreira ideológica quando está em causa o derrube de Governos democraticamente eleitos. É a conquista do poder pelo poder.
Mas, tirando este exemplo mais recente, a política deve ser assim mesmo. A discussão e a contenda fazem parte do “jogo”. E ainda bem que é assim. Os consensos são desejáveis mas apenas como ponto de chegada e não como ponto de partida. É bom que existam opiniões diferentes e que as mesmas sejam discutidas. Se todos pensarem da mesma maneira ninguém evolui e a sociedade estagna. É, aliás, do confronto de ideias que podem resultar ideias aperfeiçoadas. Isto é, convém que existam pontos de partida diferentes para que, num processo de discussão democrático, se cheguem aos consensos possíveis. E quando não é possível chegar a um consenso, também não há problema. A distribuição das forças políticas representa a vontade popular expressa em eleições e, aí, decide quem ganhou as eleições (ou, pelo menos, assim era…).
Voltando ao consenso caldense de fundir as associações, é um daqueles casos em que o mérito da decisão parece saltar à vista de todos. A partilha de serviços permitirá uma contenção de despesas; passará a haver uma interligação de decisões; existirão programas comuns; enfim, ganha-se escala. No entanto, se não for bem implementada, esta pode ser uma daquelas medidas que nasce como uma boa intenção e que, depois, não passa disso mesmo. Para além da questão dos recursos humanos, cujas relações laborais importa avaliar do ponto de vista jurídico e social, gerir um Centro da Juventude não é a mesma coisa do que gerir um pavilhão de exposições e feiras. Os públicos e os parceiros são diferentes, os objetivos são outros. Já para não falar de um Centro Cultural e de Congressos.
Conseguir trazer às Caldas os melhores espetáculos e os mais afamados artistas implica uma estratégia que não é confundível com o que é necessário para trazer até cá os principais operadores de turismo, por exemplo, para fazer uma feira que seja um sucesso e que atraia milhares de visitantes. Da mesma forma, organizar uma feira com muitos expositores e milhares de clientes não é o mesmo do que organizar iniciativas que entusiasmem os jovens e que lhes permitam desenvolver neles próprios um espírito comunitário saudável.
Saúda-se o consenso gerado, bem como o destaque que a própria Gazeta das Caldas legitimamente lhe concedeu, mas fica a preocupação de que esta iniciativa, se for apenas para exaltar os consensos, possa vir a ser um passo atrás no caminho de desenvolvimento cultural que se vinha fazendo nas Caldas, no esforço constante por manter uma juventude caldense dinâmica e consciente e na divulgação da nossa cidade enquanto polo regional de exposições e de negócios.

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