Confrarias gastronómicas

0
592

Suspenso, pelas razões então expostas, o meu anunciado propósito, escrevo hoje, muito brevemente – o espaço não dá para mais, em cada escrito – sobre as confrarias gastronómicas. Será como nas novelas, por episódios e, sempre com a “ajuda” de Paulo Sá Machado, que foi presidente da Federação Portuguesa de Confrarias Gastronómicas.
Foi em Roma que surgiram os primeiros “colégios”, que tinham lugar em botequins onde se faziam petiscos e onde “escravas” enfeitadas se deixavam cortejar pelos clientes. Todos realizavam  banquetes e  tinham um patrono benfeitor que convidava os seus membros para uma farta refeição.
As Confrarias Gastronómicas da Idade Média – fase seguinte – criaram-se a partir destes “collegia” e nas “gildas” germânicas, assentes ideológica e psicologicamente na doutrina cristã.
Com a desagregação do Império Romano e a organização da sociedade feudal, inúmeros reinos se formaram. O reino Franco, formado na Gália (a actual França), foi o mais duradouro desses novos territórios. Ali, a dinastia carolíngia sucedeu à dinastia merovíngia em 751, fundada por Pepino, o Breve, que, naquele ano, depôs o último merovíngio e se fez eleger rei dos francos em assembleia popular, tendo obtido a sagração papal em 754.
Na França carolíngia existiram associações ou sociedades de entreajuda unidas pelo juramento e pela prática da refeição em comum.
O concílio de Nantes, em 858, no seu capítulo XV, ocupou-se especialmente do assunto. E, pelo articulado, percebe-se haver na base de tais associações objectivos profanos: realização de um banquete, entreajuda e reconciliação entre os seus membros.
É lugar comum dizer-se, hoje, como foi ao longo dos tempos, ser à mesa que muitos assuntos, de toda a índole se resolvem. Daí a opinião, de que as Confrarias Gastronómicas, mesmo sem o nome actual, existiram sempre.
A Igreja terá começado por desconfiar destas associações espontâneas de laicos, receando que continuassem o paganismo ou que se convertessem em movimentos heréticos.
Mas, logo muito cedo, procurou cristianizá-las e utilizá-las em seu proveito, tarefa facilitada pela solidariedade entre os seus membros que saía reforçada com a prática dos preceitos evangélicos de amor e caridade e consolidada com solene juramento religioso.
Hoje as actuais Confrarias Gastronómicas têm o seu juramento, tal e qual acontecia no passado.
A própria Igreja fomentou desde o século IX e X a criação destas “familiaridades artificiais” de laicos à volta de mosteiros, paróquias e, na sequência da reforma gregoriana, promoveu até a fundação de confrarias de clérigos e de confrarias mistas de clérigos e leigos.
Era nos Mosteiros e Conventos onde se preparavam lautas refeições e de onde surgiram receitas que ainda perduram e são apreciadas.

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com

- publicidade -