Companheiro João Francisco

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notícias das CaldasQuis o destino que tivéssemos a mesma profissão de atendimento público.
Conquistámos simpatia e amizade até aos dias de hoje. Não é por acaso que muitos amigos se interessavam em saber do teu estado de saúde.
Recordo com saudade o nosso tempo vivido, desde a nossa infância do tempo de escola e mais tarde as nossas aventuras em que tu foste um verdadeiro Tarzan.
Convenceste-nos a irmos ao casal da Quinta dos Rosários, no Vale do Coto, porque constava que havia uma cobra fora do vulgar, pois eras hábil em apanhar cobras à mão. Fomos todos nus para dentro dos carrascos porque só assim a cobra não nos atacava; foi uma verdadeira aventura.
Recordo a festa das crianças em que nós fizemos parte durante três anos aquando da vinda do bispo D. António de Campos. O Coto estava lindo com as ruas todas juncadas e pela primeira vez, a iluminação da festa na rua Principal.

O tempo passa e ainda está vivo o Sr. Mário Dias que fazia parte da Junta quando o Sr. Joaquim Fortunato nos convidou para servirmos a Junta. Era essa a vontade do povo pois eles tinham feito um inquérito à população que nos escolheu, juntamente com José Almeida, conhecido pelo Zé Serralha.
Posteriormente, fomos convidados pelo Eng. Paiva e Sousa, uma vez que havia essa vontade.
Fomos nomeados pelo Governador Civil, ignorando como as coisas funcionavam na altura, pois nós só pensávamos em servir a freguesia.
José Almeida foi excluído e nós não aceitámos o cargo nem comparecemos nas eleições, correndo o risco, mas nunca pensando no problema que tínhamos criado.
Foste um grande companheiro e nunca me abandonaste. Fomos recebidos pelo político Dr. Aníbal Correia, que concordava com o nosso ponto de vista, mas nada podia fazer. Este homem sempre nos considerou.
Mais tarde, depois do 25 de Abril, viemos a saber que José de Almeida tinha sido excluído por pertencer ao Conjunto Cénico Caldense e frequentar o café Central.
Nunca fomos presos graças ao 25 de Abril.
Ficámos sempre amigos pois nunca me abandonaste num período difícil em que os dois comprometemos a nossa liberdade sem fazer mal a ninguém.
Teus filhos podem orgulhar-se que tiveram um pai que até o destino quis que tu morresses no Dia de Portugal.
Adeus companheiro. Até à eternidade.
Viva João Francisco.

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António Oliveira

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