Durante alguns anos tive uma coluna de crítica de cinema aqui na Gazeta e noutros jornais, entre os quais o Expresso. De vez em quando ainda aqui faço comentários sobre cinema ou outras artes.
Hoje, venho aqui chamar a atenção para que de dia 12 a 14 de Maio no CCC vão passar alguns filmes notáveis, italianos, (extensão da 10ª) todos eles de grande gabarito, numa altura em que as americanadas, sem tento nem qualidade enchem os ecráns e infelizmente até já voltaram à Casa Branca, numa cópia ainda com menos, muito menos qualidade que a de um actor secundário que por lá esteve, nos anos 80.
Vi no último dia da 10ª Festa do Cinema Italiano no S. Jorge, em Lisboa, mas sei que está previsto para distribuição comercial, e não percam, não percam mesmo, o notável # In Guerra per Amore# de Pierfrancesco Diliberto.
É um filme que enche a sala de emoção. Bons actores, boa direcção dos mesmos, cenários e espaços (alguns a encherem quem lá esteve de recordações de uma ilha mágica, a Sicília!, se não conhecem a não perder….), uma história verdadeira por detrás da trama que dá corpo ao enredo, o apoio da Mafia aos americanos para a invasão da Sicília a troco, a troco da impunidade e do benefício que foi, com a Democracia Cristã, alapar o poder na ilha, até mesmo a tempos muito recentes.
Um personagem, o capo, chefe, da Mafia local, que é um mimo, seja na caracterização, seja no discurso, dois personagens que parecem saídos dos “Feios, porcos e maus” do Ettore Scola, e com grande humor e humanidade (palavras com a mesma raiz!) fantástica e uma estória de amor, contra a maldade e os arranjos e arranjinhos.
Se não vos deixo água na boca, e este festival também teve comidas na ementa, que tal o restaurante do CCC fazer uma noite italiana, ou falar com o Norberto, dos Sabores D’Italia, um dos melhores “ italianos” do nosso país, para umas noites de glória gastronómica…
Mas é também sobre a corrupção, a corrupção social e logo política que este filme se esmera, e este ano quando se afiam facas para o bodo autárquico é muito apropriado pensarmos no Clientelismo, foco de toda a degenerescência do sistema democrático e da sua perversão.
Não basta fazer colóquios e conversas sobre a abstenção e estigmatizá-la como nódoa da/na participação quando as lógicas desta, a transparência e liberdade nos partidos e também nos grupos de cidadãos, muitas vezes emanações dos piores desvarios de populismo e autoritarismo e até de indiciados criminalmente ou mesmo bandidos (que abundam em certos partidos) , pois a transparência, a liberdade e um quadro de discussão séria sobre programas e intenções que não existe, ou é rasgado na volta da esquina.
António Eloy

































