Amélia Sá Nogueira
socióloga e ceramista
O dia amanhece solarengo, é hora de fazer mais uma das nossas viagens diárias até à cidade. O percurso de cerca de 12 quilómetros é bonito. Passamos por verdes vales, pomares em flor, pinhais que dançam nos dias de vento à nossa passagem. É quase banal cruzarmo-nos com um esquilo vermelho, um bando de perdizes ou um saca-rabos. Um ecossistema quase perfeito, um quadro harmonioso não fosse aquela mancha na paisagem que nos atinge como um murro no estômago. É impossível ignorá-lo. Invariavelmente, semana após semana, o monte de lixo de monos vai ganhado estrutura. São sofás, frigoríficos, colchões, televisões, restos de materiais de construção. Os resíduos são limpos e retirados num dia, para surgirem uns dias depois. Um trabalho inglório dos serviços de limpeza e recolha do município, por mais recursos que sejam afetos a situações semelhantes existentes no concelho.
Não é, pois, de estranhar que na iniciativa de cidadania “Ideias para as Caldas”, levada a cabo pelo Conselho da Cidade em 2016 e novamente em 2021, o maior número de sugestões e críticas tivessem recaído nos assuntos relacionados com a Limpeza e Ambiente. A criação de uma bolsa de “padrinhos”para manutenção de espaços verdes, a realização de ações de sensibilização para a reciclagem e uso correto dos contentores, a colocação de placas informativas juntos aos contentores do lixo com indicações sobre a recolha de “Monos”, a instalação de caixotes do lixo “Smart, a lavagem dos contentores do lixo e a manutenção periódica das paragens do TOMA, são apenas algumas das muitas sugestões apresentadas pelos cidadãos no âmbito do projeto.
Alguns municípios já adotaram boas práticas envolvendo e sensibilizando os cidadãos para a importância da cidadania ambiental. A titulo de exemplo, o município de Sintra criou uma aplicação informática “Sintra Resolve”, onde é possível de forma rápida reportar problemas que ocorram no espaço público. O município de Cascais criou a figura de “Tutor do Bairro”, um interlocutor privilegiado que tem como missão monitorizar na sua área de residência o estado da limpeza urbana, a recolha de resíduos entre outros assuntos de interesse da comunidade. Só é possível alcançar a tão desejada qualidade de vida com políticas públicas adequadas, serviços eficientes e cidadãos participativos e conscientes do impacto dos seus atos no contexto local e das comunidades onde estão inseridos, seja a sua rua, o seu bairro ou a sua freguesia. ■

































