Chegámos!

0
683

Cinco dias depois, sexta feira, dia 10 de março, foi o último dia de viagem. De França a Portugal, 20 horas ininterruptas. E a rotina, era a mesma de sempre: Carrinha > Área de Serviço (pôr gasóleo, tomar café, ir à casa de banho, lavar a cara) > Carrinha…

De rabo já quase quadrado lá nos íamos aproximando. Notavam-se rostos cada vez mais felizes, mais tranquilos e mais confiantes. No entanto, no meio do percurso, um dos “reguilas” chamou-nos novamente à realidade. Teria acordado e passado alguns instantes perguntava pelo pai e pelos seus brinquedos. Não tínhamos percebido a pergunta, mas ao vermos as lágrimas a correr no rosto da mãe e, depois de apoio na tradução, lá percebemos. O ambiente ficou novamente tenso. Começavam a bater as saudades e a preocupação. Também os outros meninos tinham saudades dos pais e também as outras mulheres sentiam a falta do conforto dos seus maridos. Mas com o passar das horas tudo voltou à “normalidade”. Na autoestrada já víamos as indicações de que faltavam 20 Km para chegar a Portugal. Preparámos as bandeiras. Íamos atravessar a fronteira com a mesma vontade que um atleta corta a meta após a maratona. E o momento chegou. As bandeiras de fora, as carrinhas apitavam, e um “Obrigado Portugal” ecoava do fundo das nossas carrinhas. Inevitavelmente, as lágrimas caíram. Era tão bom sentir que todas estas pessoas, mesmo não conhecendo Portugal, já tinham um carinho e reconhecimento tão grande. Pouco tempo depois, um telefonema. Era a Filipa, uma amiga que acompanhou pelas redes sociais a nossa viagem e me perguntava se não queríamos passar por Pombal para jantar. Uma vez que não implicava um desvio grande da nossa rota, aceitámos mais este generoso convite.
E quando chegámos foi com alguma surpresa que vi um grupo de amigos meus que se teriam organizado e mais do que preparado toda a logística do jantar, teriam preparado um kit de brincadeiras para cada uma das “nossas crianças”. Depois do jantar, gentilmente oferecido pelo restaurante Regalo, a Filipa, o João, a Rafaela e o Tasqueiro distribuíram os miminhos “Bolas, legos, puzzles, bonecas” fizeram a noite dos mais pequenos.

Faltavam agora 50 Kms para a chegada. Era hora de começar a avisar os familiares e de agradecer a Deus por nos ter acompanhado nesta aventura. Nestes últimos quilómetros do percurso refletíamos sobre todas as dificuldades que passámos, pela loucura daquilo que fizemos, pelos riscos que corremos, pela realidade que assistimos, pelas horas que passámos juntos e que contribuíram para reforçar ainda mais a nossa amizade.

- publicidade -

E chegámos a Óbidos. Era uma da manhã e alguns dos nossos conterrâneos, a autarquia e os nossos colegas de executivo lá estavam à nossa espera para nos dar um abraço, para entregarem um bolo acabadinho de fazer, para entregar mais uns brinquedos aos meninos, mas acima de tudo para se disponibilizarem a ajudar no que fosse preciso daqui em diante.

As crianças vinham a dormir, não as queríamos acordar. mas com a ausência do embalo da carrinha e com a conversa que se fazia sentir, logo despertaram. As mães recolhiam abraços e as lágrimas caíam-nos. Estávamos felizes por ter concluído com sucesso esta missão.

A viagem teria acabado, mas ficámos agora na expetativa de que, em breve, estas famílias possam regressar em segurança às suas casas para junto das suas famílias.

Hoje, dois dias depois de terminada a viagem, já com o sono reposto e as energias renovadas, quero, em meu nome, agradecer a todos aqueles que aceitaram este desafio, e que foram responsáveis pelo sucesso desta viagem.

À Gazeta das Caldas e em particular ao Joaquim Paulo, que me desafiou a escrever este diário, o meu reconhecimento pela confiança.

Esta foi sem dúvida a viagem da minha vida.

- publicidade -