Cem anos de um arquivo: a Gazeta

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Joana Beato Ribeiro
Arquivista

O meu jornal sempre foi a Gazeta (das Caldas). À sexta, eu ou o meu pai, íamos ao correio e, à vez, folheávamos as notícias da semana no nosso concelho e região. Para quem vive na aldeia, a Gazeta era e é fundamental para saber o que de mais relevante acontece na cidade e para, como na minha casa, saber as novidades de outras freguesias rurais, especialmente Alvorninha e A-dos-Francos, de onde tem origens o meu pai.

Em 2021, Dóris Santos escreveu neste mesmo espaço: “Quem quiser fazer a história das Caldas da Rainha do séc. XX não pode deixar de consultar a Gazeta”. E, pela leitura de vários números antigos e recentes, eu não podia concordar mais! A Gazeta é, por si só, um arquivo da nossa história local. Guarda nomes que são difíceis de encontrar noutros registos, guarda memória de vivências irrecuperáveis.

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As minhas investigações têm versado a ação de Fernando da Silva Correia e, em ano de centenário, deve também haver espaço para homenagear os seus fundadores: este médico foi um deles.

No primeiro número deste jornal, escreveu sobre um dos assuntos que mais o fascinaram: a rainha D. Leonor. Na sua opinião, as Caldas deviam-lhe uma homenagem e, também aqui, tenho de concordar, hoje 100 anos depois. Nesse ano de 1925, o IV centenário da morte da rainha foi assinalado com a criação, em sua homenagem e com o seu nome, de um Lactário-Creche e a Associação Comercial e Industrial recebeu o célebre quadro em que Malhoa representa a rainha e que hoje se encontra no Museu com o nome deste pintor caldense.

A presença na Gazeta de Fernando da Silva Correia prolongou-se por toda a sua vida. Nos primeiros anos de publicação, escreveu sobre a participação na Grande Guerra; doenças epidémicas e o estado higiénico da vila/cidade, região e país; “As causas do mal”, rubrica em que se propôs analisar a “enorme crise moral” existente; ou a história do Hospital Termal e da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, propondo a “creação d’um muzeu ceramico nas Caldas”. A Gazeta constitui ainda um excelente meio de divulgação pública da sua ação, servindo para medir, até certo ponto, a opinião geral sobre ela.

Em outubro de 1927, pouco depois da elevação a cidade das Caldas, Fernando da Silva Correia escreveu sobre o aniversário da Gazeta, declarando ser “um dos melhores jornais da provincia.” Em 2025, passados 100 anos do seu primeiro número, mais do que recordar as origens, devemos garantir a qualidade, continuidade e atualidade da Gazeta. Um longo futuro à imprensa local, arquivo da nossa história e memória!

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