CATÓLICOS DO OESTE – Acolher

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Gazeta das Caldas

Estou integrado num Movimento de espiritualidade conjugal que, no último mês, nos levou a refletir sobre o acolhimento aos outros. De um modo muito especial, sobre os casais que passam dificuldades, tendo muito presente o referido no número 242 da Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor): “… Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então foram obrigados, pelos maus tratos do cônjuge, a romper a convivência. Não é fácil o perdão pela injustiça sofrida, mas constitui um caminho que a graça torna possível. Daí a necessidade duma pastoral da reconciliação e da mediação, inclusive através de centros de escuta especializados que se devem estabelecer nas dioceses”.
Como cristãos, é de premente necessidade refletirmos, sobre a nossa forma de acolher os outros, sem preconceitos e falsos juízos. As pessoas só permanecem na comunidade paroquial se se sentirem bem acolhidas, sendo que acolher é um gesto primordial da convivência humana.

Na tradição da Igreja, deu-se tanta importância a acolher as pessoas na comunidade que se chegou a instituir uma ordem especial, entre as chamadas “ordens menores”, designada a ordem de “ostiário”. Ostis quer dizer “porta”; ostiário é quem abre as portas. Não só no sentido literal de “porteiro”, mas no sentido mais amplo de possibilitar a entrada e a participação. Ou seja, tratava-se de abrir (acolher) a casa da comunidade a quem chegava. Ostiário era alguém designado para a função de acolher e, ao mesmo tempo, na sua própria pessoa era como uma presença sacramental que simbolizava essa dimensão tão importante da comunidade cristã, aberta a todas as pessoas.
São inúmeras as passagens bíblicas que mostram a importância do acolhimento. São Paulo, na Carta aos Romanos (15,7), recomenda: “acolhei-vos, por isso, uns aos outros, como Cristo também vos acolheu para a glória de Deus”. Jesus escolheu e acolheu os apóstolos e discípulos para que os seus propósitos se concretizassem (cf. Mt 10,1-8). Acolheu, sem discriminação ou preconceito, pessoas tidas como pecadoras, prostitutas (Lc 7,36-50), leprosos (Lc 17, 11-19; Mc 1,40-42) e outros tipos de doentes ou de pessoas consideradas impuras (Mc 6, 55-56).
Acolher é também receber o outro como ele é. Se hoje estamos na comunidade, desenvolvendo algum tipo de serviço, é porque um dia alguém também nos acolheu. Acolher é, portanto, aceitar, deixar que o outro venha fazer parte da nossa comunidade e não ver nele um concorrente, mas, sim, um colaborador, alguém que vem para acrescentar.
O acolhimento é parte integrante do processo de evangelização da paróquia, porque ajuda a revelar, nos seus membros e nas ações por ela desenvolvidas, o rosto acolhedor de Cristo, cheio de misericórdia e compaixão.
A propósito desta temática, o arcebispo de Braga disse, na celebração eucarística do Domingo de Páscoa, deste ano, que a Igreja Católica deve ter como marca “o acolhimento e a hospitalidade”, evitando ser vista como “burocrática e incapaz de compreender os dramas das pessoas”.
“Acredito que o acolhimento e a hospitalidade serão traços essenciais da Igreja de amanhã. Hospitalidade é a coragem de acolher as pessoas no ponto em que se encontram, com a diversidade de pensamento e fazê-lo sem preconceitos”, sustentou, na homilia que proferiu na Sé de Braga.
Deixo um desafio/inquietação a todos nós: O que devo e posso fazer para melhorar o acolhimento na minha vida pessoal e paroquial, aqui nas Caldas da Rainha?

Fernando Alves
Equipas de Casais

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