Carta aberta ao presidente do Instituto Politécnico de Leiria

0
1031

Venho agradecer-lhe por me ter recebido  nas vossas instalações, pela sua disponibilidade e simpatia para tal. (…)
Não devo ser eu, enquanto empresário, que devo reivindicar aquilo que pela sua natureza é uma obrigação dos promotores da formação, não deveria eu, ter que implorar ano após ano, por recursos qualificados que sirvam o tecido económico desta região.
Formar os recursos é antes de mais o vosso dever. Um dever para o qual estão em falta nomeadamente para estes concelhos Caldas da Rainha e Óbidos. A ESTGAD foi um dos primeiros polos de expansão do IPL, Caldas da Rainha na altura serviu os propósitos do instituto, apoiou, financiou, acarinhou o projecto.
Vinte anos depois a região mudou, a fileira e as empresas da “arte” rareiam, outra realidade urge – as empresas tecnológicas, e a melhor prova disso mesmo são os investimentos no Parque Tecnológico Óbidos e no Caldas Empreende, espaços completamente lotados de start ups, de empresas que precisam de recursos qualificados para singrarem na fileira ultra competitiva da tecnologia.
Por outro lado temos o movimento da ESAD a contrariar o mercado, a ESAD perdeu um T de tecnológico, e iniciou um caminho oposto, de costas voltadas para as empresas e para os habitantes desta região.
Não tenho a menor dúvida que a ESAD está no mau caminho com esta amputação, não é preciso ser visionário para saber que o futuro de grande parte da população está no criar o seu próprio emprego, a sua própria empresa. (…)
Vejam as sucessivas vagas – que tal tsunamis, mudaram completamente o panorama mundial, nos anos 90 com a Internet, depois o Comérico Electrónico, os SmartPhones, agora a Internet das coisas (IoT), os veículos eléctricos e os veículos autónomos. Tudo na sociedade hoje em dia tem como base um sistema de informação, com forte necessidade de técnicos e engenheiros informáticos.
Eu vejo o futuro por aqui, um futuro onde existam recursos qualificados e bem remunerados, a viver numa região de excelência, mas não podemos castrar definitivamente os sonhos de milhares de jovens destes concelhos, não podemos estrangular o tecido económico local – as empresas e habitantes locais formando apenas em Leiria. Tanto mais que o número de recursos nesta área há muito que está aquém das necessidades do mercado.
Eu vou tentar explicar na prática porque razão está errada a visão daqueles que defendem que as empresas das Caldas e Óbidos devem captar recursos em Leiria.
Imaginemos um recurso humano com um vencimento liquido de 20009/mês. Se morar em Leiria e tiver que se deslocar diariamente para as Caldas, esse recurso gastará cerca de 500 euros (gasóleo e portagens). (…)
Este recurso humano está naquilo que chamamos numa situação insustentável, pois recebe menos 25% de salário que um seu congénere em Leiria. Logo que tiver uma oferta de igual valor em Leiria ele optará por ficar em casa.
Se, por outro lado, a empresa suportar esses 25% de custos suplementares, então a empresa torna-se 25% menos competitiva que outra congénere em Leiria que não tenha que suportar o mesmo valor. E todos nós sabemos que não são os empresários que definem o valor nem dos salários, nem do valor que os consumidores estão disponíveis para pagar por um serviço ou produto.
Mas sabemos que se formos mais caros 25% por um mesmo produto, o consumidor não nos escolherá e a empresa não existe.
Se tivermos em conta apenas o universo de empresas start up, com menos capacidade de investimento, então o problema agrava-se de sobremaneira (…)
Caro Rui Pedrosa, à sua simpatia peço que lhe junte determinação e sensibilidade para os problemas que a região vive, que as empresas vivem, e que de certa forma está no dever da instituição que lidera que elas nunca tivessem a viver tal necessidade, a formação base de recursos se não for seu dever de quem mais é ? O IPL está instalado localmente, ministra o ensino da engenharia informática e cursos relacionados, de que espera para tomar a decisão?
Por fim, caro e afável Rui Pedrosa, trocaria um pouco da sua simpatia por uma maior sensibilidade para com as empresas da região, por isso lanço-lhe um desafio, venha falar com as empresas, venha conhecer-nos, retribua a minha visita, venha conhecer o Parque Tecnológico, troque meio dia de escritório no IPL por meio dia a reunir com empresas do Caldas Empreende ou do Parque Tecnológico Óbidos, conheça a região, venha conhecer alguns daqueles que também são a razão de existir da instituição que lidera.

Jorge Figueiredo

NR – Gazeta das Caldas deu a conhecer esta carta ao presidente da IPL, mas este optou por não responder.

- publicidade -