Porque não se calam?
A solução é colocar em lay off quem todos os dias transmite informação em excesso e muitas vezes contraditória. Estou certa que pensariam antes de falarem, porque 1/3 do ordenado faz muita falta. Talvez a perda total de rendimentos funcionasse melhor.
1 – Durante anos vivemos deslumbrados com o turismo, mas a realidade nunca foi exatamente aquela que as TV ou outros órgãos de comunicação social transmitiam. O Turismo crescia em Lisboa e Porto, o resto do país deixava muito a desejar. Até o Algarve deixava muito a desejar. Se o Turismo estivesse “a dar”, quem trabalhava no turismo era bem pago. Coisa que nunca aconteceu. Todavia, foi o Turismo que melhor se saiu nos últimos anos.
É em Lisboa que aterram os aviões, a “nossa companhia de bandeira”, a TAP, não serve o país, serve Lisboa. O Norte e o Algarve têm razão. Para agravar a situação, os comboios não existem ou não funcionam. Vêm agora umas carruagens em segunda mão compradas à RENFE. A única ligação Lisboa-Madrid foi suprimida e talvez nunca mais volte. Os portugueses deveriam fazer turismo cá dentro de comboio, mas como? Linha do Tua, Linha da Lousã, Linha do Oeste, Linha do Guadiana, Linha da Beira Interior, tudo degradado ou encerrado em definitivo.
2 – Reduzimos o défice, mas o país nunca esteve bem. Há pouco tempo fomos ultrapassados pela Polónia e, neste momento, dos 27 países da União Europeia só 3 estão atrás de nós, a Roménia, Bulgária e Grécia. Vivemos constantemente num deslumbramento coletivo, ninguém tem coragem de dizer “o Rei vai nu”. (….)
3 – O Estado não tem dinheiro para injetar nas empresas, só na TAP, esse monstro sagrado, em que nenhum piloto pode ver o seu vencimento reduzido (ponham os olhos na Lufthansa). A TAP é “too big to fail”? Fizeram as contas? Ou estamos mais uma vez a pagar uma decisão ideológica? A folga do Centeno é pequena, por isso o Centeno já fugiu. As medidas de ajuda à economia que o governo tomou são miseráveis a todos os níveis: Impostos, TSU, empréstimos, uma vergonha. Nunca vamos conseguir competir com outros países europeus nesta crise, mas esta será sempre a nossa sina.
4 – É claro que o Turismo é o sector que mais vai sofrer. O medo e pânico instalado, real ou não, vai demorar anos a passar. Vamos estar meses sem faturar. O que ouço e vejo na Comunicação social e da boca dos responsáveis políticos é “O Reino Unido “ e o Algarve e o Reino Unido… e o Algarve. Não ouço uma palavra sobre turistas de outros destinos e que provavelmente deixam cá mais dinheiro que o Reino Unido. Vivemos… obcecados com o Reino Unido. E os americanos, e os asiáticos de outras paragens que não da China, e os latinos, e os brasileiros, não são todos importantes? Entendo o Algarve, mas as outras regiões do País são igualmente importantes. (…)
7 – Das Associações representativas do turismo vi muito pouco, algumas declarações insuficientes e desoladoras: “vamos ser resilientes”/“Quando tudo passar e o país vai estar aqui”. Palavras vãs, frases feitas, muito pouco para quem não sabe se consegue aguentar a sua empresa até tudo passar…. Entretanto de país milagre, passamos a país proscrito. Somos banidos por todos, até pelo país com mais mortes por milhão de habitante na Europa – A Bélgica.
A resiliência tem limites. Apetece dizer aos Políticos, aos Médicos, aos Jornalistas “porque não se calam!”. Os portugueses são maus para eles próprios. Os nossos representantes conseguiram levar-nos a situação de País proscrito. A diplomacia económica, política e social falhou redondamente, uma vergonha. A DGS deve acabar já com as conferências diárias, os órgãos de comunicação social devem fazer a triagem daquilo que noticiam, mesmo que estejam desesperados por audiências devem ter um papel moderado. Estão a fazer muito mal a nível económico e fazem muito mal a nível psicológico (…). Não estou a defender que a DGS, Médicos de Saúde Pública e Governantes não façam o seu trabalho, mas façam-nos com alguma discrição e bem feito, menos reuniões e mesas redondas, que bem sabemos não são produtivas. Precisamos de mais ação e menos conversa. Mais coordenação política e menos folclore. Mais planeamento e menos campanha.
O deslumbramento bacoco sempre foi perigoso. Fomos os primeiros a ter o selo safe & Clean, agora ninguém quer cá entrar. Será que quem governa não pensa nisto? Quem pensa que o turismo interno nos vai salvar da maior crise económica das nossas vidas, não percebe nada disto. Esta “gente “que nos governa conseguiu enterrar o Turismo, responsável por cerca de 15 % do PIB. Entretanto vão nacionalizando empresas…

Alcina Gonçalves

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