Das Caldas ao Oeste | Políticas intermunicipais

No passado dia 9 de novembro, os municípios de Alcobaça e Nazaré, representados pelos respectivos presidentes da câmara municipal, manifestaram publicamente a vontade política de construir um projecto de mobilidade suave que alargue a escolha dos modos de transporte pelos cidadãos, valorizando ao mesmo tempo a mobilidade ciclável, pedonal e eléctrica. Em 2018 deverá ser desejável e possível percorrer a pé, de bicicleta ou em autocarro eléctrico o trajecto ao longo da margem direita do rio Alcoa, desde a sua nascente em Fervença (Alcobaça) até ao seu encontro com o mar na Nazaré, num percurso de cerca de 12 quilómetros. Quando estiver construído, tal percurso será uma alternativa saudável à estrada nacional, com a mais valia acrescida da experiência única de poder disfrutar de uma paisagem de grande valor ambiental e cultural ao longo do Rio Alcoa.
Outra iniciativa intermunicipal que merece destaque no Oeste é a “Rota Histórica das Linhas de Torres”, desenvolvida por uma plataforma conjunta dos municípios de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira. Os seus objectivos centrais são a salvaguarda, requalificação e valorização do património arquitectónico e militar das Linhas de Torres Vedras, criando uma rota turística de excelência com capacidade de internacionalização. A “Rota Histórica das Linhas de Torres” foi um dos 17 projetos vencedores do prémio Europa Nostra 2014, na categoria “Conservação”. Este prémio constitui uma distinção atribuída pela União Europeia e pela Rede Europa Nostra à preservação e defesa do património cultural Europeu, reconhecendo todo o trabalho conjunto desenvolvido por estes municípios.
Iniciativas políticas intermunicipais como esta são ainda raras na prática política dos municípios do Oeste e, por isso, devem merecer um justo destaque e uma breve reflexão. Na verdade, tendo em consideração o vasto e rico património geológico, paisagístico, ambiental e cultural do Oeste, temos de reconhecer que ainda está quase tudo por fazer a este nível das políticas intermunicipais concertadas.O Mar e a Água são obviamente os recursos mais relevantes na caracterização do Oeste Atlântico, mas as políticas municipais de promoção das actividades marítimas e aquáticas ainda se fazem muito de costas voltadas. Por exemplo, a recente internacionalização das ondas gigantes da Nazaré teria muito maior impacto se houvesse também uma promoção concertada com a prática também cada vez mais internacional do surf em Peniche.Também entendo que é urgente e necessário que o município das Caldas da Rainha defina, com a maior brevidade possível, um projecto estratégico de médio e longo prazo para o seu rico património hidrogeológico. Um projecto que possa vir a ser um instrumento futuro de políticas intermunicipais de âmbito regional mais alargado, articulando a água do mar com a água termal, os tratamentos termais com o sol e a praia, o Parque D. Carlos I e a Mata Rainha Dª Leonor com a prática do surf em Peniche e as ondas monumentais da Nazaré. Este património, que tem raízes profundas na própria natureza hidrogeológica da região na qual Caldas da Rainha assume uma centralidade evidente, extravasa em muito os limites concelhios. É urgente desenvolver ações políticas intermunicipais concertadas tendo em vista a sua avaliação e valorização, promovendo o reconhecimento e a visibilidade alargada que o património hidrogeológico merece, ao nível regional, nacional e internacional!