O orçamento participativo é um assunto recorrente desta coluna. Quase sempre por maus motivos. Desta vez, infelizmente, não se alteram as razões porque se volta ao tema. A última edição da Gazeta das Caldas explica profusamente quão bizarro pode ser um processo e quão mal pode ser conduzido para dar os habituais fracos resultados de participação.
Apesar de uma mobilização inédita de munícipes, os que conseguiram concretizar o voto foram ainda menos do que na edição anterior. Façamos a pergunta: dos cerca de 500 cidadão que tentaram participar e viram o seu voto olimpicamente ignorado, quantos sentirão vontade de voltar a participar? Todavia, desta vez, vai-se mais longe.
Na última página deste jornal, a semana do Zé Povinho Faz um escrutínio do trabalho do vereador “responsável” pelo OP. Não se fica pelo OP e traça uma panorâmica sobre o desempenho em geral do nosso autarca. Vivêssemos nós numa realidade político-social decente e o mesmo já se teria demitido a estas horas. Isso não aconteceu, nem vai acontecer. Como no seu partido, e na concelhia caldense, vergonha é moeda sem valor, esperemos pelas próximas eleições para lá o vermos de novo na lista de candidatos. Para o PSD local é igual, eventualmente para os eleitores caldenses também. Mas não devia ser. Há uma dimensão ética que não pode estar ausente na política, nas carreiras, nos cargos, etc., que não se esgota na discussão de ter ou não uma licenciatura. Para cúmulo da ironia são estas as mesmas pessoas que conseguem fazer grandes discursos sobre a meritocracia e a reforma do sistema político. Sem se rirem.
Entretanto os precários do CHO continuam a sua luta por melhores condições de trabalho. Esta luta laboral não é uma simples greve por interesses próprios ou de classe, que tantas vezes os sindicatos conduziram de forma inábil nas últimas décadas. Não é sequer uma greve clássica em que um sector faz valer a sua força reivindicativa em favor dos seus próprios benefícios. É uma greve travada por trabalhadores precários, gente sem vínculo nem qualquer garantia, ou uma previsibilidade mínima sobre as suas vidas. Mas é sobretudo uma luta laboral que se trava pela qualidade dos serviços de saúde de todos nós, a população em geral. É uma mobilização que merece todo o apoio a toda a solidariedade de todos os que nos últimos anos se mobilizaram para defender os hospitais do Oeste, pelas condições de funcionamento do SNS. É, nesta medida, um combate civilizacional, algo que vai para além do imediato e a que todos nos devemos associar. Por aqui se compreende que quando o BE se bate em sede de Orçamento de Estado por mais fundos para a contratação directa na saúde o que isso significa: mais profissionais contratados em condições de dignidade que garantam um funcionamento normal de algo tão importante como um hospital. Tirar as administrações hospitalares das garras das Empresas de Trabalho Temporário que sugam o Orçamento através do sangue, suor e lágrimas de quem nos cuida quando temos um problema se saúde.
Foi interessante ver surgir por cá a polémica das praxes académicas. Numa corajosa reportagem o director adjunto deste jornal assumiu posição sobre o degradante espectáculo das praxes levado a cabo por uma minoria de estudantes da ESAD, que ainda assim se faz notar pela algazarra com que concretiza a sua boçalidade. Desencadeou as habituais vozes de protesto respaldadas em questões formais, que de substancial esta malta nada tem, nem nada consegue dizer. Numa cidade com uma escola de artes como é a ESAD, alguém devia explicar a esta rapaziada que a arte contemporânea surge com uma matriz, e é toda ela um movimento contra o academismo.
































