Entre a nossa última crónica e a actual, decorreram as três semanas mais frias dos muitos Invernos que a nossa memória regista. Numa estação que tem sido parca em chuva, as baixas temperaturas instalaram-se como uma segunda pele. Levantámos nesta coluna a questão da ausência de políticas sociais adequadas a certos contextos limites, nomeadamente a falta de habitação social. O frio chegou e nas Caldas da Rainha, além da falta de um projecto de habitação social, não há sequer notícia de um plano de emergência da protecção civil que actue sobre a população sem abrigo da cidade. A CMCR vive em negação, achando que não agindo sobre esta realidade ela talvez passe despercebida, como se não existisse.
É assim a nossa Câmara Municipal, muito lesta a apoiar levianamente o corte ilegal de umas quantas árvores protegidas por lei, em nome de uma discutível ideia de “modernização” com o alargamento de uma estrada subaproveitada e pouco mais do que inútil. Já actuação num caso limite e urgente de proteger pessoas num contexto de agressividade extrema dos elementos naturais, revela a habitual passividade a que vai tentando habituar os caldenses há décadas.
Apoiados na doutrina do pragmatismo, do “mais vale um pássaro na mão…” o PSD caldense nunca arrisca um rasgo criativo, um grito de reivindicação perante instâncias mais poderosas – nunca, que isso de incomodar os senhores não traz bons resultados, e reivindicações são coisas de sindicalistas e esquerdalhos. Como se alguma conquista de importância para os povos não tivesse de ser arduamente conquistada, o nosso PDS caldense inscreve-se na linha dominante do PSD nacional das últimas décadas, que tem na sua doutrina, além do pragmatismo conservador, a prática obediente do bom aluno, que durante tantos anos fez escola.
Em cada opção errada do PSD local e da CMCR estão reflectidos os atrasos e problemas da cidade, do concelho e sobretudo da população local e da região. Ao recuar na reivindicação de um novo hospital, que até já se tinha tornado consensual junto de amplas franjas da opinião pública local, a nossa CMCR e o partido dominante não perceberam que estavam a adiar por muito tempo a solução para o SNS. É que não adianta estar sempre a pedir obras para um hospital que não pode sofrer mais alargamentos, pelo que todos os caldenses sabem – o perímetro de protecção dos aquíferos termais não o permitem. Só um novo hospital resolve os problemas estruturais. Compreendem-se, em parte, as hesitações do estado central, do Ministério da Saúde, em avançar com as obras nas urgências: vão sorver recursos e nada vai ficar resolvido.
Com a entrada do novo ano, o calendário eleitoral sofreu uma aceleração. As eleições autárquicas mobilizam a atenção de todos os partidos. Uns de uma maneira, outros de outra. Alguns colocam toda a prioridade na apresentação de um candidato que depois se encarregam de promover, como um sabonete, junto do eleitorado. Para estes partidos a política, e os ciclos eleitorais, são uma espécie de ritual em que periodicamente se cumpre a democracia.
A nossa democracia pode cumprir-se com maior ou menor intensidade. Da democracia portuguesa diz-se que é de baixa intensidade: as pessoas votam de quatro em quatro anos e, fora dos momentos eleitorais, a participação é escassa. Quem é eleito não quer lá os cidadãos a incomodar e espera poder “mandar” a sue belo prazer, usar os meios públicos para propagandear o seu desempenho e fazer-se reeleger no fim do ciclo quadrienal, para dar início a outro exactamente igual.
O Bloco de Esquerda também vai apresentar, a seu tempo, a candidatura autárquica. Valorizamos, no entanto, um processo diferente e mais participado. Por isso, vamos desencadear primeiro a discussão do território e, nesse processo de auscultação, envolver os munícipes que para isso estejam disponíveis.

































