Tem-se popularizado nos últimos anos a citação atribuída a Winston Churchill, segundo a qual “a democracia é o pior dos sistemas, à excepção de todos os outros”. Da democracia portuguesa costuma dizer-se que é de baixa intensidade, e é a justamente a este registo de baixa intensidade que se referia o político inglês. Ou seja, vivendo a humanidade em regimes políticos, melhores ou piores, até os melhores são passiveis de serem aperfeiçoados. A intensidade da democracia pode-se medir pela forma como ela se pode identificar como mais representativa ou mais participativa. E ambas não são mutuamente exclusivas, antes podem e devem ser complementares. Ou seja, sendo a nossa democracia formalmente representativa, ela mais beneficia e mais se intensifica quanto maior for a participação, tanto em espécie como em grau.
Mesmo a defesa da democracia, pelos partidos, deverá passar por ai: pela proposta de mecanismos que intensifiquem a participação dos cidadãos na vida política das suas sociedades e das suas comunidades. Nesta fase em que agora entramos, com todos os partidos a acelerarem o seu trabalho para as eleições autárquicas, com cada um a afinar o melhor possível as suas organizações locais para melhor chegar à população, seria bom que cada partido reflectisse nos melhores mecanismos para envolver a população num processo de crescimento político e de evolução do espírito crítico individual e colectivo. Nesta altura vamos também ouvir as críticas do costume, muitas vezes generalizações sem fundamento, que acusam toda a gente que se envolve de “serem todos iguais”; “de andarem todos ao tacho” entre outras afirmações de calibre equivalente.
Ora, em minha modesta opinião, quem entra neste tipo de afirmações gratuitas, fá-lo com auto-justificação do seu não envolvimento. Quem afirma que são todos iguais, são os que não se querem dar ao trabalho de perceber as diferenças. É que essas diferenças existem mesmo, e são muito evidentes, para quem quiser pensar um bocadinho. Já essa pérola idiomática que coloca todos os políticos entre o eminente gastrónomo e o habilidoso funileiro, mistura toda a gente que se envolve na acção política autárquica, p.ex., com aquela franja partidária, que também existe, que se inscrevem em pequeninos num partido, o mais próximo possível do poder, e segue todas as etapas úteis e necessárias que lhe garantam uma carreira premiada com o respectivo “job”, de preferência num lugar de chefia da administração pública.
Mais do que ficar no café a mandar “bitaites” seria importante que cada cidadão procurasse perceber quem é quem, e onde estão as diferenças entre os partidos. Quem são os cidadãos que fazem das eleições autárquicas o expoente máximo da cidadania, participando num projecto político, envolvendo-se na composição de uma lista à sua junta de freguesia, debatendo as melhores soluções para apresentar em programa eleitoral aos seus vizinhos e concidadãos. Distinguir estes dos profissionais da política: daqueles que estão na política não para prestar serviço à sociedade, mas para se servirem a si próprios.
Esta dicotomia, e até algumas contradições, que existem nos partidos foram apropriadas nos últimos anos por um certo discurso demagógico, populista e oportunista, que explora a pouca atenção dos cidadãos em geral, para fazer a diabolização dos partidos pondo tudo, como se costuma dizer, “no mesmo saco”. Os auto-designados “movimentos de cidadãos” quiseram explorar algum descontentamento popular para, no fim, acabarem por fazer exactamente o que criticavam nos partidos. Veja-se o exemplo do que se passa na Freguesia da Foz do Arelho, a todos os títulos exemplar do que não pode acontecer numa autarquia. Com a agravante de agora não haver qualquer projecto político a quem pedir responsabilidades. É que um “movimento” extingue-se com o acto eleitoral – sobretudo se as coisas correrem mal. Afinal, com todas as contradições, semelhanças e diferenças, a cidadania responsável continua a estar nos partidos. Nuns mais do que noutros.
































