Este ano regressa a Feira dos Frutos ao Parque D. Carlos I. Como nos diz o ditado popular: mais vale tarde, que nunca.
Toda a cidade, todo o concelho, e diríamos mesmo toda a região, esperam um retumbante sucesso deste evento que reponha Caldas da Rainha como um dos destinos obrigatórios do verão português. A organização do evento parece estar a fazer os possíveis para que assim seja. No entanto, a política de subsidiação de espectáculos que tem uma longa escola neste município ameaça continuar neste certame.
Sendo esta crónica escrita por alguém com um posicionamento político claro e explícito à esquerda, tendo sido convidado para pontuar regularmente esta coluna à luz desse espaço político, não podemos deixar de expressar agora a nossa concordância com o vereador do CDS, e colega de crónica, Rui Gonçalves, quando o mesmo se pronunciou sobre esta questão: a política de bilhética deste evento é errada. A luz do cartaz anunciado este evento deveria prestigiar essa programação com os preços adequados aos espectáculos que vão trazer ao Parque D. Carlos I.
Que esta questão não se confunda com o livre e generalizado acesso à cultura, que os municípios devem promover. O que se trata aqui é do PSD local fazer o habitual número populista de campanha eleitoral permanente, com os meios da autarquia. Com esta abordagem de bilhética o que a CMCR quer é fazer mais umas borlas ao público local e satisfazer a sua clientela política doméstica. Não é com esta abordagem de programação que Caldas da Rainha se qualifica como destino. Mas, pelos vistos, não é essa a estratégia da CMCR, mais interessada em apresentar triunfalmente um grande sucesso de público do que fazer um evento com sustentabilidade. Ao subsidiar assim o entretenimento, como faz com o concerto anual de véspera do 15 de Maio, com a Festa Branca e outra programação de verão do género na Foz do Arelho, temos um testemunho inequívoco de incapacidade de pensar a cultura e a cidade com uma estratégia coerente e consequente.
Todavia, o regresso da Frutos ao Parque é uma boa notícia, sobretudo para a cidade. Nos idos da década de 70, quando foram lançadas as feiras no Parque, era ainda um miúdo e foi com esses olhos deslumbrados, de criança, que acompanhei as primeiras edições. Além da cidade nessa altura estar repleta de aquistas, o parque fervilhava de visitantes em cada dia de feira. Com a fileira económica dos pomares em expansão nesta região, a Frutos apresentava a cada edição uma pujança renovada. Actualmente vivemos outras realidades, com esse subsector agrícola consolidado, sem estar isento de problemas, mas com outros certames que de lá para cá se foram afirmando. A Frutos deverá recuperar um lugar de destaque no calendário anual depois do anterior executivo a ter liquidado por muitos anos com o novo-riquismo do pavilhão de exposições que os fundos comunitários nos trouxeram como mais uma promessa europeia que não passava de outra ilusão de “padrões europeus”.
Os eventos acompanham os ciclos de vida dos territórios que representam e promovem. Um evento, como uma instituição, tem uma missão, promove uma visão e um conjunto de valores. Encerra objectivos de natureza cultural e económica, social e educativa. Espera-se da organização que promova uma reflexão, que aprenda com a experiência, e faça as alterações necessárias para que o evento cumpra a sua missão em futuras edições desta terceira série. Boa Feira!
































