Celeste Afonso
diretora cultural executiva
Já no século XVIII, as barbearias eram espaços de encontro, descontração e socialização. Enquanto esperavam, os homens fumavam ali os seus charutos, bebiam e conversavam. No início do século XIX, Gillette criou as lâminas descartáveis e, com esta ideia revolucionária, as barbearias tradicionais foram, gradualmente, fechando portas e caindo no esquecimento.
No início do nosso século, um pouco por todo o mundo, assistimos ao boom das barbearias tradicionais a ganharem nova vida e a fazerem parte dos roteiros turísticos das cidades.
Nas zonas nobres das cidades, com rendas altas, surgem espaços que apostam na originalidade, com vibração vintage, onde se espera, relaxa e socializa. As barbearias modernas, as barbershops, oferecem muito mais do que “barba e cabelo” . Assentes na tradição, tornaram-se dos espaços mais alternativos da cidade, com programação cultural, espaço expositivo, biblioteca, bar, música, ecrãs gigantes e bilhares. Oferecem uma sensação de comunidade e incentivam a conversa entre homens que se juntam pela experiência partilhada. É o revivalismo da barbearia à moda antiga, também na sua função social, acompanhando as necessidades e exigências do homem contemporâneo.
Esta é também uma tendência na nossa região onde somos surpreendidos com inúmeras e criativas barbearias tradicionais.
A este propósito, fui surpreendida por uma casa de madeira instalada pela Junta de Freguesia das Gaeiras numa praça pública para que funcionasse como Barbearia. Inicialmente, pensei tratar-se de um espaço pop up que desapareceria no final do FOLIO. Mas há umas semanas li uma reportagem onde o jovem empreendedor explicava que era um negócio particular, permanente, e que estava muito agradecido ao Amigo. Caiu-me o queixo! Só neste nosso Oeste se ocupa o espaço público com uma cabana que serve de barbearia, sem licenciamento, sem concurso público, sem regulamento e a Junta de Freguesia ainda partilha a reportagem nas suas redes sociais, muito orgulhosa do seu feito. Abriu-se um precedente! Eis a solução para a concretização de tantos sonhos!
Há dias, um amigo dizia-me que o que mais o incomoda é o síndrome Guinness book dos eleitos locais. Tenho pensado muito nisto. A mim, o que mais me incomoda é gerir-se a res publica como se fosse a casa de cada um, à “moda antiga” do “posso, quero e mando”.
O espaço público é o espaço da sociedade, o espaço político, e por isso um espaço simbólico. Leiam Hannah Arendt e Habermas. ■

































