Estamos quase naquele querido mês de agosto e já temos o país a banhos. Depois de um infindável ano letivo, que cansou alunos, pais, professores e auxiliares, mais do que quis compensar quinze dias de férias forçadas em confinamento, chegam as tão esperadas férias. Ou não fosse a covid-19 estar à espreita e não havia um só português em território nacional.
Mas é o segundo verão em pandemia, e desta vez, o vírus não tirou férias. Está aí a quarta vaga, ou a terceira a sério, depende dos especialistas a consultar, e os portugueses vão-se espalhando capilarmente por território português, ilhas incluídas, mediante, claro está, as suas capacidades e condições. Alguns mais audazes experimentam o certificado digital e atiram-se a esse mundo fora.
Já os estrangeiros que para cá vêm dependem mais das leis do seu país do que das nossas restrições.
Tendo sido demonstrado que era difícil fechar Lisboa às 15h30 ao fim de semana (era ver o Colombo a transbordar às 15h00 para perceber o real impacto dessas medidas), o Governo resolveu “inovar”, e mantendo a estratégia de testagem massiva, passámos a ter os testes como requisito para alojamentos e restaurantes. Testes, esses, em várias modalidades, inclusive feitos à porta desses mesmos estabelecimentos.
Esta medida em si pode ser muito interessante e até vir a revelar-se eficaz, mas aplica-se de igual modo quer no Hotel Ritz quer no T1 na Graça a cair de podre. E entrou em vigor em 24 horas.
Ora, tendo o nosso país pré-covid enveredado pelo ramo do alojamento local, e tendo esses mesmos alojamentos passado por crises covid, têm no verão uma excelente oportunidade para recuperar o que quer que se tenha perdido. E com hospedes portugueses na sua maioria. Irónico, não? Um país que se rendeu ao Airbnb, a alugar a preços pornográficos casas a torto e a direito a estrangeiros ávidos de sol, paz e peixe grelhado, agora a voltar-se para o cliente interno como tábua de salvação.
Pois bem, mas num país a banhos, rumemos a sul.
Acham mesmo que vão ser pedidos testes a hóspedes em plena Albufeira desta vida? Ou na costa alentejana? Muitas vezes quem abre os alojamentos e recebe os clientes são as próprias equipas de limpeza e não os donos. Vão ser pedidos testes EM TODOS os alojamentos? Envia-se por e-mail um vídeo de um auto teste? Duvido. As leis e regras demoram a chegar aos lugares longe de Lisboa, às terras pequenas, às estradas nacionais, aos itinerários complementares. À medida que nos afastamos da capital, das grandes cidades, o ritmo é outro, não é imediato. Há lugares onde nem parece que vivemos em pandemia. Ou não fossem algumas máscaras no chão perdidas a denunciar tal facto.
Será que os senhores lá de Lisboa têm essa noção? Será que o ministro da Economia ao propor estas medidas pensou num Portugal longínquo e iletrado?
Talvez, mas medidas assim anunciadas, sem regulamentação e cegas da realidade, fazem-me descrer em quem tem como missão travar esta pandemia politicamente. Se é que a política faz alguma coisa ao vírus… ■
As leis de Lisboa e o resto do país
- publicidade -
































