As Águas Santas das Caldas da Rainha em Terapêutica Dermatológica (1930)

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Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT

É demasiado clichê dizer que a história se repete e, de facto, essa não é a forma como deve ser encarado o curso do tempo e da ação do homem, no entanto existem casos em que que tal suposição nos aflora com maior acuidade. Um deles é o do Balneário das Águas Santas, que, em meados da década de 1920, também se encontrava mergulhado num “sono letárgico”, como nos dizia a Gazeta.
A obra em destaque este mês, à semelhança de outra já analisada, tem por base uma comunicação apresentada no XIII Congresso Internacional de Hidrologia, Climatologia e Geologia Médicas, que ocorreu em Lisboa, em 1930. Nela, Fernando da Silva Correia caracterizou o referido estabelecimento, dando conta da sua localização e da descoberta e propriedades das suas águas. Indicou que em 1855 foi construído o balneário existente através de uma subscrição pública e identificou a ação benemérita de Claudina Chamiço para com os leprosos como uma das principais causas para que o estabelecimento fosse posteriormente votado ao abandono, já que “seria horroroso frequentar um balneário que tinha paredes meias um leprosário que com êle comunicava (…)”.
Em 1930, esta situação estava totalmente ultrapassada e, como o autor descreveu, a Câmara Municipal tinha desinfetado e feito obras de envergadura para que o edifício fosse novamente útil a quem desejasse frequentar as águas locais. Esse interessado devia, para tal, “apresentar uma declaração escrita por qualquer médico das Caldas (…) em como não sofre de lepra.” Estavam especialmente comprovados os “resultados evidentes” daquelas águas em inúmeras doenças de pele, pelo que Fernando da Silva Correia identificou médicos, dedicados a esta especialidade, que ali haviam mandado doentes para tratamento e nomeou as termas – nacionais e estrangeiras – onde se encontravam águas semelhantes. Terminou com o registo da análise feita por Charles Lepierre em 1923.
Muitos documentos do seu arquivo permitem conhecer o trabalho desenvolvido enquanto diretor clínico das Águas Santas. Além dos relatórios anuais sobre a frequência do estabelecimento, é possível identificar alguns dos utentes – estando por apurar se um deles, Cosme Damião, se refere efetivamente ao jornalista, fundador do Sport Lisboa e Benfica – através das guias de inscrição ou ainda seguir a atividade da Associação Protetora do Albergue dos Leprosos nas Águas Santas, através do seu livro das atas.
É igualmente interessante acompanhar a “faina jornalística” (da Gazeta das Caldas, claro) da reabertura do Balneário, a 16 de maio de 1927, uma tradição que ressurgiu. Em harmonia com a abertura do hospital termal, foi com a maior satisfação que se viu “um grande movimento por essas ruas, onde cruzavam sem cessar toda a especie de veiculos (…) numa romagem encantadora”, contando-se aos “milhares” aqueles que acorreram “com os seus ranchos e farnéis”. Outra satisfação foi ver que pelo balneário “passou uma lufada de organisação e de limpeza, modernisando-se tanto quanto o magro erário do Município tem podido comportar.” Usaram da palavra José Saudade e Silva, Alfredo Espinho Júnior (Associação Comercial), José Pinto e António Montez. A assistência manteve-se no local até à noite, “sendo essa festa abrilhantada” pelas filarmónicas de Ponte de Rol e A-dos-Francos. ■

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