Antiguidades das Caldas da Rainha e do tempo da Rainha D. Leonor (1959)

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Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT

Este mês continuamos a falar do incentivo que Fernando da Silva Correia deu à publicação de documentos inéditos sobre o hospital termal. Depois do compromisso, destaca-se a obra de Jorge de S. Paulo – cónego lóio da congregação de S. João Evangelista, provedor do hospital no século XVII –, cujo manuscrito de 1132 páginas foi editado com o título “O Hospital das Caldas da Rainha até ano de 1656”. Estranha que este não seja o título deste texto?
A verdade é que só em 1967-1968, o manuscrito de Jorge de S. Paulo foi publicado na íntegra. Claro está, sugestão feita por Fernando da Silva Correia à Academia de Ciências de Lisboa em 1965 – pelo que este médico, falecido em dezembro do ano seguinte, não chegou a ver a publicação concluída. A Academia pretendia pôr “à disposição fácil dos estudiosos um conjunto valioso de informações” sobre a fundação, o funcionamento e a administração do hospital, assim como “sobre muitos aspectos da vida da gente portuguesa nos séculos XV e XVII.” O livro é composto por seis partes, assim identificadas no prefácio: 1) Vida e obras da rainha D. Leonor; 2) Fundação do Hospital dos Banhos no lugar das Caldas; 3) Funcionamento do Hospital; 4) Administração dos Hospital pelos lóios; 5) Rendimentos e despesas dos Hospital; e 6) Memórias e antiguidades do Hospital e da vida das Caldas.
Ora, aqui temos o título de hoje. E este não foi o único, pois Fernando da Silva Correia levou à estampa outras duas partes do manuscrito: em 1928, “História da rainha D. Leo-nor e da fundação do Hospital das Caldas” e, em 1944, “A medicina termal portuguesa na época da Restauração”. O seu arquivo encerra informações sobre a preparação de todas estas edições. Pelo prefácio da obra, sabe-se que “História da rainha D. Leonor e da fundação do Hospital das Caldas” foi recebida com “interesse”, tendo adquirido os seus exemplares, a viscondessa de Sacavém, João Branco Lisboa, o médico Francisco Avelar, o poeta Afonso Lopes Vieira, entre outros, muitos deles caldenses. O sucesso dessa publicação foi, em parte, o que motivou a preparação de “A medicina termal portuguesa na época da Restauração”, edição que contou com o apoio do Instituto para a Alta Cultura e da Câmara Municipal da cidade. Por estar equiparado a bolseiro desse Instituto, é possível saber, através de um dos relatórios periódicos de Fernando da Silva Correia, que esta publicação se atrasou devido à escassez de papel, uma consequência da II Guerra Mundial.
“Antiguidades das Caldas da Rainha e do tempo da rainha D. Leonor” foi impresso em junho de 1959 na Tipografia Ideal (Lisboa), sendo uma edição do Museu José Malhoa promovida pela Junta da Província da Estremadura, por ocasião do V Centenário do nascimento de D. Leonor. No seu prefácio, o mais longo destas três publicações, o autor indica que Jorge de S. Paulo, administrador e “historiógrafo” escrupuloso, “além da História da Rainha D. Leonor e da fundação do hospital das Caldas, descreve o funcionamento do Hospital pormenorizada-mente, as atribuições de cada funcionário, a administração feita pelos lóios, o Tombo de todos os bens do Hospital, os testamentos, doações, demandas, conflitos, erros, faltas e abusos, não hesitando em apontar os cometidos por alguns cónegos da sua Congregação, que censura asperamente, indicando normas a adoptar para os evitar dali em diante.” Por esta edição foi Fernando da Silva Correia felicitado pelo economista Moses Bensabat Amzalak.■

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