Alberto Nunes Miguel nasceu a 20 de Janeiro de 1932 em Oiã, Aveiro. Veio para as Caldas da Rainha com o seu pai após a sua mãe falecer.
Trabalhou na Fabrica Faianças Belo na secção da pintura mais ou menos com 18 anos. O seu patrão apercebeu-se do seu talento e dispôs-se a pô-lo paralelamente com o trabalho, num curso na escola comercial e industrial Rafael Bordalo Pinheiro na pintura. Na fabrica Belo conheceu a minha mãe que nas férias, dos estudos ia para lá e começaram a namorar.
Eram tempos difíceis e uma das saídas para se ganhar algum dinheiro era a emigração. Alberto Miguel teve a oportunidade de ir uns anos, para o Canadá sozinho e depois, mais tarde, com a minha mãe para a Alemanha. Assim que sentiu que tinha alguma estabilidade financeira, o seu espírito criativo e empreendedor fez com que ele voltasse para Portugal onde construiu uma casa e uma oficina de cerâmica e com a sua esposa, que também tinha muito jeito, para a cerâmica e estabeleceram-se por conta própria.
No início lançaram uma linha de peças onde, manualmente, era tudo feito lá. Começaram a vender para lojas e as encomendas começaram a crescer. E tiveram que pôr empregados, para os ajudar. Alguns, eram pessoas ali do bairro e que além de um emprego e alguns miúdos nas férias também gostavam de ir lá. Aquele espaço, funcionava também como uma escola, uma vez que desde a feitura da calda, num moinho de calda, ao enchimento de alguns moldes, o acabamento da peça, secar e cozer num forno de altas temperaturas, das quais algumas peças, eram vidradas e voltavam a ser cozidas e outras ficavam em terra cota, tudo se fazia ali.
Era um trabalho, de muita qualidade e originalidade, inspirado em Bordalo Pinheiro, criou uma linha de cerâmica com ornamentos naturalistas.
Entretanto a sua nora e o seu filho Fernando Miguel também vieram ajudar e criaram, as suas próprias peças e tendo a cerâmica nos genes pois alem do seu pai, o seu avô, materno, Artur Caldeira, era um oleiro tradicional da época e usando algumas das suas peças decorava-as com cores mais vivas e adornava-as com outras aplicações, fazendo uma junção entre, uma velha tradição, do artesanato local, modernizando-o.
Alberto Miguel, embora com muito sucesso e muitas encomendas começou por arranjar algumas pessoas que trabalhando à comissão entregavam-lhe as peças, por algumas lojas do país essencialmente no Norte, Algarve e Lisboa criando assim uma carteira de clientes. Como as coisas estavam bem encaminhadas tendo alguns empregados, a minha cunhada, o meu irmão e a minha mãe a ajudar e tendo ele, uma criatividade volúvel, já não era este tipo de trabalho que o deixava realizado e mais ou menos aos cinquenta anos paralelamente com a sua oficina, dedicou-se ao artesanato e criou as suas próprias, figuras, peças únicas, com características diferentes de tudo o que se fazia nessa época nas Caldas da Rainha.
Fez um estudo aprofundado das azenhas e moinhos da região reproduzindo-os quer em cerâmica vidrada quer em terracota. Inspirando-se no tipicíssimo local diversificou-se em varias temáticas e as suas peças iam desde o caris satírico inspirado em Bordalo Pinheiro, figuras populares, que exibiam os costumes do povo, mas também figuras mitológicas e na Arte Sacra. Os presépios e a Ultima Seia eram peças muito disputadas por coleccionadores.
Também fundou com outros colegas a Associação de Artesãos das Caldas da Rainha. Expuseram nas carismáticas feira da cerâmica e da feira da fruta no Parque D. Carlos I em Feiras de Artesanato por todo país e em salões nobres como o Casino Estoril e a FIL conseguindo assim prestigiar a arte e artesanato desta cidade. Individualmente expôs em varias galerias e vendeu peças para serem expostas no estrangeiro.
Fazia exposições, vendia para lojas e particulares que alguns se tornaram coleccionadores.
Entretanto Milena e Fernando Miguel e já no Formigal, formaram o seu Atelier S. Miguel e com o seu cunho próprio dedicaram-se também ao artesanato e ainda hoje fazem exposições e feiras por todo o país onde Fernando Miguel tem ganho prémios de distinção do seu trabalho com a eleição, da melhor peça em vários certames concorrendo com outros artesãos.
Alberto Miguel faleceu em 1997 de doença prolongada e já não podendo ir à Expo ainda fez uma peça alusiva ao evento que retrata perfeitamente o espírito da exposição, que deixou juntamente com um espolio do qual fizemos o Museu Alberto Miguel.
Autodidata de um enorme talento, visionário, altruísta, e um grande comunicador, que associado ao seu trabalho elevou o seu nome e o da cidade das Caldas da Rainha a muitos pontos do país e ao estrangeiro.
Termino com uma frase que o meu pai costumava referir para a sua arte…
“O artesanato é a mais simples e complexa das obras de arte.” Obrigada pai por tudo o que foste e o que me ensinaste na vida.
Rosa Miguel
NR – Por uma grande ironia do destino, a autora deste texto, Rosa Miguel, morreu na semana passada, vítima de doença. Gazeta das Caldas cumpre o seu desejo de ver publicado nas nossas colunas a homenagem ao seu pai, Alberto Miguel.
































