Quando há cerca de dois anos, foi apresentado um “estudo prévio” para a reabilitação dos Pavilhões do Parque, com vista à utilização como hotel, era proposta a construção de um edifício na frente do “Céu de Vidro”, para o lado do parque, ocultando a estrutura envidraçada. Entre outras considerações sobre o projecto, que estão vertidas em acta de reunião de Câmara e tornei públicas através das redes sociais, foi clara a minha frontal oposição a essa intenção.
Dito isto, sabe-se que o projecto agora apresentado, em apreciação, eliminou aquele edifício, o que me apraz registar, projetando para o “Céu de Vidro” a própria entrada do hotel.
Existe na cidade uma corrente de opinião, que se manifesta contra o facto da entrada do hotel ser feita pelo “Céu de Vidro”. Usam, como grande argumento, que aquela é a principal entrada do Parque e como tal, tem que ser pública. Também defendem que a entrada do futuro hotel de 5 estrelas, deve ser feita pela zona da “parada”.
Estou em absoluto desacordo com esta opinião, por várias razões e desde logo porque o principal argumento utilizado é falacioso.
O “Céu de Vidro” nunca foi entrada do Parque e só é uma das “entradas” do Parque, desde há 10 anos, quando foram feitas as obras de reabilitação daquele “canal visual”, porque nunca foi mais do que isso, entre o Parque e o Largo do Hospital Termal.
Vejamos. Enquanto foi “Casino”, o Céu de Vidro era entrada exclusiva do “Casino”. Quando passou a “Casa da Cultura”, continuou a ser entrada exclusiva da “Casa da Cultura” e não é preciso ser muito idoso e ter memória extraordinária, para saber e testemunhar esta realidade. Depois, veio a fase de encerramento e respetiva degradação, até ao ano de 2009, quando a sua reabilitação foi concretizada e só então passou a ser, mais uma das “entradas” do Parque e mesmo assim também todos sabemos que está frequentemente encerrada, seja porque lá decorrem eventos, seja porque o horário assim o determina, seja porque ninguém o abriu. Não existe portanto nenhuma razão histórica, nem funcional que suporte o argumento. Factos são factos.
O “Céu de Vidro” é, tal como os próprios “Pavilhões”, um edifício que do ponto de vista legal, pode ser concessionado a privados, que neste caso se propõem reabilitar aquilo que o Estado deixou destruir.
Nunca, enquanto o “Céu de Vidro” foi interdito à passagem pelo seu interior, alguém de esquerda ou de direita, se lembrou de vir defender e exigir a sua abertura. Esta repentina preocupação não existiu, porque simplesmente era assim. O Céu de vidro pôde ser sempre fechado e exclusivo, só agora é que deixou de poder ser.
Porquê agora?
Não fora a transversalidade partidária e ideológica das personalidades defensoras desta tese e ficaria a sensação de que estávamos perante um ataque à iniciativa privada, neste caso, de um grupo empresarial que vem, em muito boa hora diga-se de passagem, reabilitar um conjunto de edifícios icónicos da cidade, em acelerado processo de degradação, um dia destes irreversível. Porque a incompetência do Estado assim o determinou, é preciso ter sempre presente.
Desmontado o argumento, falacioso repito, impõe-se uma questão elementar. Não faz sentido vir defender que a entrada de um hotel de 5 estrelas, que se espera venha a ser e espero que seja, um elemento de atração de visitantes à cidade e à região, tenha a sua “entrada” escondida algures, pela “porta dos fundos”, num local onde não existe passagem, por entre um parque de estacionamento, qual jogo de “caça ao tesouro” para a encontrar.
Não só não faz sentido, como é um absurdo.
Ninguém em seu perfeito juízo, faz um investimento de perto de 20 milhões de euros, para lhe determinarem por decreto, ou por discussão pública, por onde deve ser feita a “entrada”, sem que para tal exista razão que o justifique, ou fundamento legal também inexistente.
Já nos basta ter a fama de município inimigo do investimento e dos investidores, não queiramos dar mais razões.
Avivando memórias, recordo que ainda recentemente, investimentos deixaram de ser feitos no concelho, porque correntes de opinião se lembraram de vir colocar questiúnculas de “lana-caprina”, inviabilizando-os.
Há por aí muitas outras questões, essas sim graves, sobre as quais não se vislumbra a discussão pública que merecem.
Ainda o Céu de Vidro e o hotel
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