Afetos, afetos…

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A chegada do Verão traz-nos, no panorama político, a habitual silly season.
Por já estarem saturadas com as questões que, durante o ano inteiro, as afligem enquanto membros duma comunidade, a generalidade das pessoas prefere abstrair-se dos problemas durante as férias para, em paz, poder “recarregar as baterias”. Daí que o Verão seja, normalmente, uma época de notícias menos conflituosas no que toca às disputas político-partidárias.
Era exatamente para aproveitar este período de apaziguamento que pensei escrever, nesta primeira crónica desde o início do Verão, sobre uma iniciativa muito louvável, intitulada Cidade dos Afetos, realizada pelas autarquias das Caldas da Rainha e do Barreiro. É certamente um sinal de maturidade democrática, quando os políticos locais de duas cidades, ainda para mais governadas por partidos políticos diferentes, abraçam esta ideia de que os afetos não são exclusivos da esfera íntima de cada um de nós e que podem e devem ser estimulados e promovidos pelo poder público. Ao darem as mãos numa iniciativa como esta, estes responsáveis sabem que estão a contribuir para aumentar a qualidade de vida dos seus munícipes.
Acontece porém que, este ano, com a proximidade das eleições legislativas, que ocorrerão em finais de setembro ou início de outubro, já seria de esperar que os atores políticos não deixassem arrefecer a discussão política para, democraticamente, convencerem os eleitores da bondade das suas propostas. É natural, assim, que a referida silly season não chegue a existir este ano ou, pelo menos, que seja bastante encurtada.
Curiosamente, nas Caldas da Rainha não fazemos a coisa por menos e queremos ter um “dois-em-um”, ou seja, não deixamos arrefecer a contenda política mas também não abdicamos da silly season. A solução encontrada foi uma original política silly.
Refiro-me, obviamente, ao clima de crispação que se tem verificado entre dirigentes caldenses do PSD e do CDS-PP.
Que sentido faz estarem a trocar irritadas acusações sobre política local quando as pessoas já os veem a percorrer juntos as nossas ruas em plena pré-campanha para as legislativas? Para mais, com a importância que, este ano, as eleições legislativas têm, não é altura para brincadeiras. Os eleitores têm pela frente a escolha entre duas opções: continuar o caminho de rigor que nos tirou da bancarrota ou seguir o exemplo do Syriza, que António Costa se apressou a elogiar, e voltar ao tempo de Sócrates, fingindo que podemos viver para sempre gastando muito mais do que o que temos. É natural que muitos estejam descontentes com a primeira opção e com as restrições que tivemos de suportar para arrepiar caminho, mas a verdade é que temos bem visível, para nos mostrar as consequências da segunda opção, o exemplo do sofrimento por que está a passar o povo grego.
É tempo de união! Ninguém pretende que o CDS desista das suas ideias e de fazer oposição nas Caldas. Mas com o desafio que Portugal enfrenta, há que pensar em juntar esforços e deixarem-se de questiúnculas, que, para além do mais, não ficam bem numa Cidade dos Afetos. E se é certo que as tricas parecem ter sempre início do lado do CDS, cabe ao PSD, enquanto partido maioritário, dar o exemplo e não responder na mesma moeda. Os afetos não servem só para serem ensinados aos outros. Também devem ser praticados.
Deixem-se de sillyzices!

Jorge Varela
jorge.varela@ipleiria.pt

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