Publicou a Gazeta das Caldas, na edição de 22 de Julho, uma interessante reportagem biográfica sobre o senhor Engenheiro Oliveira: personalidade caldense, cujas qualidades – vida exemplar, saber de experiência feito, mérito profissional, trato simples e cordato, sensibilizam quantos com ele têm a dita de conviver.
Nessa entrevista, o Engenheiro Oliveira conta-nos o curioso episódio da surpreendente paragem que Salazar impôs nas Caldas, para visitar o Museu Malhoa; Instituto de Artes – ao tempo denominado Museu Provincial de José Malhoa – cujo benefício impar, todos ficamos devendo à meritória acção de António Montez que, aproveitando os tempos propícios da Exposição do Mundo Português, de 1940, e usando a sua influência política, conseguiu, trazer para as Caldas – esse e outros benefícios. António Montês foi, inquestionavelmente, a meio do século passado, a personalidade local que mais labutou pelo engrandecimento da sua terra.
Diz-nos o Engenheiro Oliveira que o Presidente do Conselho (que conhecia bem), ao visitar o Museu, caprichou em fazê-lo – optando pela esquerda – “Que eu, ao menos uma vez, vá pela esquerda”, terá dito.
Deverá ter sido, de facto, a única e a última vez, que assim procedeu!
Passou-se a história no alvor dos anos 60: – “Ainda a estrada nacional não passava pela Venda das Raparigas, e o trajeto para o Porto tinha de ser feito pelas Caldas”. Disse-nos o senhor Engenheiro.
Azar o nosso! Diremos nós.
Após ter parqueado frente ao Hospital Termal, percorreu o Parque, em direção ao Museu, passando junto ao rink de Patinagem. Espantou-se o político com o aspecto pouco estético da infraestrutura (bem podia ter entrado no Parque por outra porta), perguntando se aquilo era uma praça de touros. Disseram-lhe que não: que era um recinto de patinagem, onde se jogava hóquei em patins.
Salazar, sublinhando a, por si considerada, fealdade da instalação, logo ali decretou que era para demolir, imediatamente. Os caldenses que o acompanhavam ainda lhe disseram que lá jogava uma equipa de prestígio na modalidade – que não havia outro local na terra para a substituir. Nada demoveu o ditador. “De duas em duas semanas – palavras do engenheiro Oliveira – passou a telefonar ao Presidente da Câmara indagando se o recinto já tinha sido arrasado”.
Da Presidência do Conselho de Ministros recebeu, também, o Sporting Clube das Caldas uma carta, informando que deixariam de poder utilizar as instalações do Parque, porque iam ser destruídas.
O Rink do Parque foi construído, pelo Hospital Rainha D. Leonor, logo a após o final da 2ª. Guerra Mundial. Era um recinto de 40 x 20 metros, prolongado em dois semicírculos, relvados no seu interior, que constituíam uma pista para corridas em patins. Chamavam-lhe o Rink relvado.
Com o desenvolvimento da prática competitiva e a ascensão do Sporting a divisões nacionais, tendo chegado à primeira, o recinto foi envolvido por excelentes bancadas de madeira: – o tal aspecto de praça de touros que Salazar julgou ver. Lá jogaram Hóquei o Sporting e o Ginásio das Caldas e Basquetebol o Sporting, o Futebol C. das Caldas e a Secla; algumas vezes lá se jogou ténis, vólei ou andebol; e também, se instalou um ringue de box. Promoveram-se saraus gímnicos, bailes e festivais de variedades. Era o único local ao ar livre de que os caldenses dispunham.
Por lá passaram a seleção nacional, campeã do mundo de Hóquei em Patins, a seleção italiana e a campeã do mundo de patinagem artística – Franco Rio.
As bancadas tinham vindo da Foz do Arelho, dos Campeonatos Nacionais de Remo, junto ao Penedo Furado. Eram excelentes e enormes. Porém, de pouco serviram, dado que a distância entre elas e a pista, só permitia ver as embarcações usando binóculos. O Dr. Asdrúbal Calisto foi o grande responsável por esta pomposa organização, que deve ter dado vasto prejuízo.
Depois de desmanchado o recinto do Parque, as bancadas foram trasladadas para o Campo da Mata, tendo, durante muitos anos, servido excelentemente o Caldas S. Clube.
No sítio do Rink, cresceriam rosas. Mas… não houve milagre. Caldas, só algum tempo depois de 74, voltaria a possuir instalações para a prática desportiva.
Assim terminou a acidental viagem de Salazar às Caldas, para conhecer o Museu Malhoa que, por não entrar no Parque pelo portão da direita, havia de causar vasto prejuízo a muitos jovens caldenses.
Mário Tavares
































