Nos países mais desenvolvidos e nas grandes metrópoles é já comum encontrar hotéis literários, inspirados em narrativas de escritores conhecidos, ou por terem sido hospedagem de alguma personagem cultural de fama internacional ou cenário de história inesquecível.
É uma tendência que se junta a outras motivações para captar uma clientela mais diversificada, como juntar-lhe conteúdos ecológicos, de viagens ou de turismo industrial, e que tem resultados palpáveis.
O agora empresário Telmo Faria e a sua mulher Marta Garcia assumiram a gestão da Estalagem, que era do sogro e pai, para a transformaram nesta onda que pode dar nome, prestígio e atrair clientela.
The Literary Man Óbidos Hotel, que vai abrir em Setembro com esta vertente, antecipando um mês o Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos – que trará a Óbidos inúmeros escritores dos países lusófonos, aproveita uma excelente oportunidade para se colocar nas bocas do mundo lusófono, pelo menos literário.
Óbidos precisa de mais investimentos perenes que criem emprego e que segurem os visitantes por períodos mais alargados, a fim de evitar que se limite a receber milhares de pessoas que permanecem na vila algumas horas.
A iniciativa de tornar Óbidos numa vila literária não gerou inicialmente grande expectativa, mas com o andar dos tempos esse projecto tem vindo a solidificar e a criar raízes, repetindo-se eventos simples, que contudo deixam lastro.
O lançamento deste hotel, que provavelmente entrará nas rotas internacionais com idêntico objectivo, pode ser uma boa aposta para rejuvenescer o projecto antigo da Estalagem do Convento, que assim vê o seu renascimento e criará um novo público mais sofisticado e qualificado.
Zé Povinho felicita o casal Telmo e Marta por mais esta iniciativa que se junta ao projecto do Rio do Prado, no Arelho, que conseguiu já várias distinções a nível nacional.
Zé Povinho não queria acreditar quando viu
o grau de destruição da mata atlântica na zona do Bom Sucesso, num local de paisagem magnífica de onde se avista a lagoa de Óbidos e o oceano.
O grau de destruição de árvores e de vegetação – mesmo que substituído pelos relvados dos campos de golfe – faz temer o pior em termos de erosão dos solos numa zona pré-dunar. Tarde ou cedo, a acção dos ventos e das chuvas acelerará o desgaste das falésias junto ao mar porque não há vegetação para as proteger.
Mas para além do aspecto ambiental, Zé Povinho tem as maiores dúvidas sobre como é possível licenciar um projecto imobiliário de 200 milhões de euros numa zona onde empreendimentos semelhantes estão falidos ou semi-falidos. E pergunta-se como é possível que o promotor de tudo isto seja uma empresa insolvente através do seu administrador judicial.
Que garantias existem de que, após a fase da infra-estruturação deste empreendimento – avaliada em 19 milhões de euros – o projecto prossiga e nele se invistam os restantes quase 200 milhões de euros? Como pode uma Câmara licenciar uma obra nestas condições?
Isto para não falar nos acessos cortados às praias que, em Portugal, por lei, são públicas. Ora este filme já foi visto muitas vezes no Algarve – a forma de alguns resorts turísticos privatizarem as praias é cortar-lhes os acessos ao público, ficando estes apenas disponíveis para os moradores.
Paira sobre este projecto do resort Falésias D’El Rey um mar de dúvidas. Dúvidas que o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, não pode afastar argumentando que este é um projecto PIN e que as decisões vêm de cima. A Câmara Municipal não é uma simples entidade administrativa obrigada a dar seguimento burocrático a um projecto de 200 milhões que tem um impacto ambiental e sócio-económico profundo no concelho. Zé Povinho teme que o Eng. Humberto Marques não esteja muito seguro quanto ao bom êxito de tão inesperado ressurgir de um projecto de uma empresa falida que, estando adormecido, acordou muito subitamente.

































