A demissão da única psiquiatra a tempo inteiro e a possibilidade de extinção do serviço de Psiquiatria do Centro Hospital do Oeste são notícias muito preocupantes para as Caldas da Rainha e para o conjunto da região Oeste.
Contudo, é preciso analisar estes factos enquadrando-os como sintomas de uma determinada forma de governar o país. Em primeiro lugar, porque são o espelho das políticas que destroem o Serviço Nacional de Saúde a partir de dentro, cortando financiamento, deteriorando-o, fechando especialidades, acumulando listas de espera, não contratando os profissionais que seriam indispensáveis e desmotivando os que estão a trabalhar.
Os cortes cegos nos serviços públicos pagam-se, geralmente, muito caro. E na saúde, em particular na saúde mental que é o caso que aqui se trata, estes cortes pagam-se não só em termos de qualidade de vida ou de produtividade mas até em vidas, basta ver o aumento do número de suicídios.
Em segundo lugar, a situação do serviço de Psiquiatria do CHO é sintomática da forma como se tratam os trabalhadores no nosso país. As psicólogas das equipas comunitárias são trabalhadoras precárias que foram, antes, contratadas pelo extravagante sistema das Empresas Temporárias de Trabalho. Portanto, uma entidade pública pagava a uma empresa para esta ficar com parte significativa do seu salário não fazendo rigorosamente nada em troca. Isto apenas porque o Estado não queria reconhecê-las como suas trabalhadoras temporárias. Agora, são contratadas no regime de prestação de serviços como se fossem trabalhadoras independentes apesar de terem horários e responsáveis hierárquicos definidos.
Aliás, esta é uma situação parecida àquela que foi denunciada pelo Sindicato do Enfermeiros e que se passa neste mesmo Centro Hospitalar. Não será defeito, mas feitio. Com a agravante dos enfermeiros estarem a ser pressionados para aceitar ficar numa situação que parece (pelas informações conhecidas) configurar um caso de falsos recibos verdes.
Não posso terminar sem, numa altura em que o serviço de Psiquiatria do CHO está em risco, agradecer a dedicação de quem, em circunstâncias muito difíceis a vários níveis, procurou promover a saúde mental esforçando-se por envolver o conjunto da comunidade num projeto inovador. Seria urgente não só continuar este caminho mas mesmo reforçá-lo. Haja coragem e vontades. Porque é de algo tão sério como a saúde mental que se trata.
Carlos Carujo
































