Todos conhecemos o Paul de Tornada. Ou melhor, todos os caldenses e a maioria dos destinos já ouviram falar do Paul de Tornada. Uma parte significativa já visitou este espaço, utilizando-o regularmente como local de passeio, contemplação e observação da vida selvagem no seu ambiente natural.
O Paul é um verdadeiro santuário de biodiversidade, situado paredes-meias com uma zona habitacional e uma área industrial, a menos de 5 quilómetros da cidade das Caldas da Rainha. Esta coexistência deve-se à ação dedicada de duas associações ambientais – a Associação PATO (Associação de Defesa do Paul de Tornada) e o GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) – bem como ao esforço incansável de muitos voluntários, que têm contribuído, ao longo dos anos, para a sua conservação e divulgação.
Este trabalho teve início há quase 40 anos, com o estudo e a avaliação do potencial ecológico desta zona húmida, na ocasião bastante degradada. Desde então, foi possível restaurar, recuperar e renaturalizar a área, tornando-a ecologicamente equilibrada e criando habitats adequados para acolher uma grande diversidade de espécies que dependem das zonas húmidas para sobreviver. Graças a este esforço contínuo, o Paul de Tornada cumpre hoje plenamente o seu papel como refúgio, local de abrigo e reprodução para aves, mamíferos, anfíbios, peixes, insetos e outros invertebrados, além de albergar uma ampla variedade de plantas, cogumelos e incontáveis seres vivos microscópicos.
Para além do interesse ecológico, o Paul de Tornada desempenha um papel essencial no ciclo da água e na regulação das cheias, prestando-nos assim um serviço direto pelo qual devemos ser gratos.
O Paul de Tornada é a única área protegida do concelho das Caldas da Rainha, classificada como Reserva Natural Local do Paul de Tornada a 2 de Julho de 2009, através da publicação em Diário da República do Aviso nº 11724/2009. Este ato constituiu um marco fundamental para o futuro desta zona húmida, materializando o compromisso da autarquia e dos seus dirigentes com a gestão e conservação deste espaço, que hoje integra a Rede Nacional de Áreas Protegidas.
Devemos orgulhar-nos e defender este património. O Paul de Tornada e a Reserva Natural Local que hoje celebramos são motivo de orgulho para todos nós, merecendo a nossa contínua atenção e cuidado. Ao protegê-los, estaremos a defender o nosso futuro e o das gerações vindouras.
Com profundo pesar, termino este texto com uma referência e uma homenagem póstuma à pessoa que mais contribuiu para o sucesso deste processo: Maria da Conceição Martins, bióloga, professora universitária, cidadã empenhada e defensora incansável das causas ambientais. Realizou os primeiros estudos científicos sobre a ecologia do Paul de Tornada, foi fundadora da Associação PATO e sua presidente durante uma década, mantendo sempre uma ligação próxima à associação e ao Paul ao longo da sua vida. Foi também presidente do GEOTA, reconhecida e respeitada no seio do movimento ambientalista português. Durante toda a sua vida, lutou pela importância da Educação Ambiental e pelo seu papel transformador na alteração de comportamentos e na promoção de práticas mais sustentáveis e conscientes para com a vida selvagem, o planeta e o próprio ser humano.
Privilegiou sempre o diálogo e a procura de consensos, atitude que muito contribuiu para aproximar dirigentes locais e população do Paul de Tornada, facilitando a sua classificação.
Conceição Martins faleceu no passado dia 14 de maio, em Lisboa, vítima de doença prolongada. A Assembleia Municipal das Caldas da Rainha aprovou, por unanimidade, na última reunião, um voto de pesar. Honremos a sua memória e o seu legado.
O nome desta ilustre cidadã ficará sempre associado à Reserva Natural Local do Paul de Tornada, que hoje homenageamos.
Maria de Jesus Fernandes (cidadã caldense, bióloga, membro da Assembleia Municipal das Caldas da Rainha pelo VM)
































