Costuma-se ouvir dizer que, para um partido político, a coisa mais importante em democracia é ganhar. Isto não deixa de fazer sentido se pensarmos que as ideias com que cada partido vai a votos só podem ser verdadeiramente colocadas em prática se esse partido vencer as eleições. Agora, o que não pode ser esquecido, e em especial pelos que ganham, é que a segunda coisa mais importante em democracia é… perder. Assumamos, de uma vez por todas, que uma boa oposição é essencial a um bom exercício do poder político.
O grau de desenvolvimento duma democracia mede-se, também, pela capacidade que o poder eleito tem de dar o devido relevo à sua oposição, sem trair, obviamente, os compromissos assumidos perante a maioria do eleitorado que em si votou. Mas a oposição também tem de assumir a sua própria importância enquanto agente político que estimula o poder, não o deixando “adormecer”, apresentando propostas alternativas e contribuindo para atingir consensos essenciais à estabilidade social.
Vem isto a propósito dum comunicado no qual o maior partido da oposição nas Caldas da Rainha revela a sua posição face à presença, nas cerimónias do 15 de maio, do primeiro-ministro (a quem chamam de “chefe de Estado”). Sob a batuta de Sara Velez, a sua recém-eleita presidente, o PS caldense mostra querer dar sinais de vida. É um bom sinal para a democracia caldense.
É certo que, no referido comunicado, o PS se mostra indignado pelo facto de Passos Coelho ter, sem qualquer razão, demonstrado medo de ser mal recebido nas Caldas. Dizem mesmo que “…nunca nenhum político que nos visitou neste dia foi, alguma vez, objeto de insolência ou sequer de impolidez por parte do povo Caldense.”. E dizem isto porque, na sua opinião, o chefe do governo deveria ter avisado da sua vinda às Caldas com maior antecedência. Ora, o caricato da situação é que o primeiro-ministro até foi recebido por uma bem organizada manifestação de protesto. Ou seja, o anúncio da sua vinda foi suficientemente atempado para que os sindicatos preparassem uma contestação; deu tempo, inclusivamente, para o próprio PS caldense se organizar e, como refere no comunicado, os seus membros eleitos se vestirem de luto. Depois escrevem, candidamente, que a vinda de Passos Coelho, a quem ainda acusam de deselegância, “…é sempre motivo de brio e de compostura…”. Pena é que, à semelhança do “povo Caldense”, o PS não saiba evitar a “insolência” e a “impolidez” num dia festivo em que, nas Caldas da Rainha, se recebe um primeiro-ministro, independentemente do partido a que pertence. Imaginem se tivessem tido mais tempo para preparar a receção…
Repudia ainda o PS caldense o facto deste governo ter tirado “dinheiro aos pensionistas” para salvar o BPN e o BES. Todos sabemos (e o PS caldense também o sabe) que foi este governo que aumentou as pensões mais baixas, as mesmas que o governo de Sócrates havia congelado, e que foi o Governo de Sócrates que nacionalizou o BPN, obrigando os contribuintes portugueses a pagar o buraco de milhares de milhões, ao contrário do que este governo fez relativamente ao BES, que obrigou os outros bancos a suportarem os prejuízos, protegendo os contribuintes.
Incoerências à parte, a forma audaz como Sara Velez inicia as suas funções, augura uma possibilidade de termos nas Caldas uma oposição que faça o seu papel, não permitindo ao PSD, o partido eleito com maioria absoluta, acomodar-se e abrandar o seu esforço de melhorar continuamente as condições de vida dos caldenses, e isso, só por si, já é uma boa notícia.
Jorge Varela
































