António José Correia
Ex-Autarca
Há dias, tive oportunidade, enquanto colaborador da Fundação Oceano Azul, de assistir no Oceanário de Lisboa à exibição do documentário OCEAN(*). Este filme que conta com a participação de David Attenborough, é um poderoso apelo à preservação do oceano — um retrato de beleza e urgência que recorda quanto dependemos da saúde do mar para o equilíbrio do planeta e das nossas comunidades costeiras.
Com a serenidade e a força que o tornaram referência mundial, Attenborough lembra que “tudo o que fazemos à natureza, fazemos a nós próprios”. Essa mensagem ecoa também nas margens do nosso Atlântico, onde exemplos concretos mostram que é possível conciliar exploração e conservação. Um deles é a pescaria da sardinha-ibérica (Sardina pilchardus), tão vital para Portugal, para o Oeste e para comunidades piscatórias como Peniche e Nazaré.
A sardinha é muito mais do que um símbolo gastronómico: é identidade, tradição, economia e comunidade. Depois de anos de restrições, fruto do esforço conjunto entre frotas, cientistas e autoridades, o stock da sardinha mostra sinais claros de recuperação. Em 2025, a quota total para Portugal e Espanha foi fixada em 51 738 toneladas, das quais 34 406 toneladas cabem a Portugal — um aumento face a anos anteriores, sinal de confiança científica na gestão aplicada.
Este progresso deve-se, em grande medida, ao trabalho da ANOP Cerco – Associação Nacional das Organizações da Pesca do Cerco e do seu presidente Humberto Jorge, armador com base em Peniche, destacando também o forte contributo técnico, altamente competente, de Jorge Abrantes. O setor organizou-se, dialogou com a ciência e assumiu práticas de pesca responsáveis. O reconhecimento internacional do Marine Stewardship Council (MSC), recentemente atribuído à pescaria ibérica da sardinha, simboliza esse compromisso e valoriza toda a fileira — do pescador ao consumidor, da lota ao restaurante.
Os números confirmam essa importância económica e cultural: em 2024, as lotas do continente movimentaram 247,7 milhões de euros, e Peniche destacou-se como líder nacional, com cerca de 38,4 milhões de euros em vendas e 14,5 mil toneladas de pescado. Dados que refletem o dinamismo de uma comunidade onde o mar é motor de vida e identidade.
Para o Oeste, esta história traduz-se em oportunidades concretas: produtos mais valorizados e comunidades mais resilientes. O selo azul MSC é, assim, muito mais do que um rótulo — é um símbolo de esperança, de que é possível viver do mar sem o esgotar.
O documentário OCEAN termina lembrando que o oceano não precisa de nós — nós é que precisamos dele com a certeza de que “se salvarmos o Oceano, salvamos o mundo”. E sim, a recuperação da sardinha portuguesa mostra que, – com coragem -, quando ciência, política e comunidade remam no mesmo sentido, o futuro pode ser verdadeiramente azul — sustentável, participativo e com sabor a mar. E que sabor…!
(*) disponível na plataforma de streaming Disney plus ■

































