Poderá parecer estranho aos leitores que a informatização deste jornal esteja associado a Steve Jobs (fundador da Apple nos finais dos anos 70). Na verdade a adesão da Gazeta das Caldas às novas tecnologias foi iniciada bem cedo, na década de 80, quando os micro computadores ainda eram desconhecidos nos pequenos jornais.
A história tem um pouco de pessoal, tendo depois sido transmitida às várias entidades com que estivemos ligados nos últimos 30 anos.
Recordo bem os tempos no início dos anos 80, quando estavam em voga os pequenos “micro computadores” Spectrum, que estavam a captar a atenção dos estudantes do ensino superior e alguns professores de outros níveis do ensino.
Nesta época, mais concretamente no final de ano lectivo de 1980/81, numa das escolas secundárias – a Bordalo Pinheiro – a que estávamos ligados, havia uma verba disponível de cerca de 200 contos (hoje mil euros) para investir num meio electrónico para o ensino comercial, havendo a alternativa entre uma máquina de escrever eléctrica com memória ou, por nossa sugestão, num microcomputador.
Nessa época, tanto uma coisa como outra eram desconhecidas na maioria das escolas portugueses, havendo nas universidades apenas uns terminais da Time Sharing, que estavam ligados a grandes computadores instalados naquela empresa, que trabalhavam com cartões perfurados.
Com uma forte argumentação e uma pequena demonstração do potencial que poderia existir, foi decidida a aquisição de um microcomputador Apple II, uma pequena máquina sem memória interna e sem écran, mas que se podia ligar a qualquer televisão para verificar o seu processamento de dados. A programação para iniciados era feita na linguagem Basic.
E foi com esse computador, com 8kbytes de memória RAM, sem qualquer leitor de disquete, que foi iniciada uma disciplina intitulada de Introdução à Informática, a qual tinha, então, apenas um carácter teórico.
O ensino desta disciplina com a utilização de um pequeno computador numa escola secundária da província foi motivo de notícia nos jornais, facto que suscitou de imediato um princípio de inquérito pelo Ministério da Educação da altura. É que existia uma norma que impedia qualquer organismo do Estado de adquirir um computador sem autorização do Ministério das Finanças, segundo foi referido.
Em boa hora, um responsável do Ministério da Educação descobriu o caricato que seria esse inquérito, caso fosse do conhecimento público, uma vez que a norma restritiva se deveria aplicar à aquisição de grandes computadores de milhares de contos e não de microcomputadores que, nessa altura, despontavam no mercado português.
Para a pacata cidade das Caldas da Rainha esse linha de computadores havia, em boa hora, sido trazida pelo “Sr. Luís da Telstar”, como era na época conhecido o empresário Luís Gomes. Os jovens mais interessados ali se juntavam para ter contacto com esses “bichos” que estavam a invadir o mundo e que saíam das mãos de Steve Jobs.
Afinal este atrevimento da aquisição de um pequeno computador para a referida escola iria dar resultados de imediato: No ano seguinte, por esta razão, Caldas da Rainha, juntamente com Lisboa, Porto e Coimbra, era contemplada com o primeiro curso técnico profissional de Informática. Para este curso concorreram vários jovens da região, alguns dos quais são hoje informáticos de alto nível e responsáveis por algumas das empresas de informática de alto nível.
Em 1984 começa a ler-se nos jornais as notícias do lançamento nos USA de um novo computador com um “potente” processador gráfico e ligado através de um “rato”. Este aspecto do rato intrigava toda a gente que não compreendia, face às máquinas até aí existentes, o que significava o papel daquela peça.
Esse simples facto levou a que a Escola e a empresa Telstar se empenhassem no final do ano de 1984 para realizarem no rés-do-chão do GAT, na rua de Camões, três dias de demonstração destes primeiros Macintosh, também com 128kb de memória interna, e que trabalhavam apenas com dois saudosos programas: o MacPaint e o MacWrite, um programa de desenho e outro de processamento de texto.
Foi uma jornada de divulgação da informática surpreendente e que atraiu centenas de pessoas, que se deslumbraram com as poucas maravilhas que esses computadores permitiam fazer e que estavam muito avançados em relação aos caixotes da IBM e congéneres que já trabalhavam com o complicado sistema operativo MS-DOS.
Cerca de um ano depois já estávamos a trabalhar com um Mac II com 512 kb que viria a servir para iniciar na informática centenas de pessoas, de todas as áreas de actividade, muitas das quais nunca teriam conseguido trabalhar na época com os sistemas clássicos dos compatíveis ultra-complicados.
Gazeta das Caldas também nesta segunda metade do anos 80 haveria de adquirir um Macintosh, onde os seus jornalistas se começaram a exercitar na escrita electrónica, que viriam a acompanhar todos os saltos tecnológicos até à introdução da internet e hoje das ferramentas mais sofisticadas como o iPad.
Recordar esta história destina-se a homenagear Steve Jobs, o grande responsável por esta revolução na informática mundial.
Steve, com 56 anos, desapareceu do nosso quotidiano na passada semana, vítima de uma doença também pós-moderna, como os seus produtos inovadores, mas deixando para a posteridade um conjunto infinito de coisas que eram antes desconhecidas e pouco críveis de poderem vir a ter um sucesso global.
A repercussão em todo o mundo da sua morte, atesta bem a importância que ele teve para tantas pessoas de inúmeros países.
Nós, enquanto seguidores e acompanhantes de Steve Jobs, nesta sua caminhada de 30 anos de revolução tecnológica, apenas temos que manifestar o pesar pela sua partida antes do tempo e agradecer-lhe o muito que fez para tornar a informática e os computadores umas máquinas simples, simpáticas e bonitas.
Devemos-lhe isso, e apesar de todas as teorias e análises que criticavam o seu modelo de negócio e a sua arrogância auto-suficiente, a trajectória que fez nesta actividade demonstrou que afinal ele foi aquele que sobreviveu.
Bem haja e descanse em paz.
J.L.A.S.
































