A minha cidade tem mais cor e diferentes cheiros

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Jorge Sobral
Jurista

Saio à rua e cruzo-me com pessoas de linguarejar cantado, grave, noutros agudos, mas diversificados quanto baste. Passo por entre homens e mulheres que vestem trajes coloridos, com adereços que nos fascinam ou interrogam. Juntos como convém as comunidades fora do seu habitat, cuidam de se entreajudar. Enchem as ruas da minha cidade. Esperam e desesperam em tudo que é serviço público, onde tentam tratar da sua regulação.
Falta sempre alguma coisa. Falta o número de contribuinte, o papel que atesta a sua residência, o contrato de trabalho e tudo o mais que sendo necessário, não deixa de ser um quebra cabeças e trava a esperança.
Ao fim de semana é vê-los em grupos, passeando pela cidade, usufruindo muitos deles de verdadeira paz de espírito e sem sinal de guerra.
Com estes imigrantes vieram outras formas de vivências. Muitos restaurantes com as comidas daquelas bandas. Mercearias com os produtos que lhes fazem lembrar estar em casa.
Alguns deles jogam críquete no Parque D. Carlos I
Aglomeram-se onde descobrem que ali existe boa rede, Internet disponível e assim poderem falar com as suas famílias.
É vê-los nas agências bancárias a tentarem enviar para a mulher, os pais, o pouco que aqui ganham, mas que é fundamental para aquecer as suas famílias.
Não sei quantas horas trabalham por dia. Não sei se conseguem alimentar-se condignamente para o trabalho que fazem. Não sei se as instalações onde residem, tem as condições mínimas de salubridade. Se vivem amontoados ou com dignidade.
Não sei se foram criadas estruturas para os acolher, ajudar nas suas dificuldades, na língua, que não conhecem, na informação sobre o concelho que os acolhe.
Vejo-os nos campos agrícolas ao redor do concelho, na apanha e tratamento dos morangos, dos hortícolas, nos campos de bacelo, na fruta e em tudo o resto, como em restaurantes e cafés, embora a língua muito dificulta a sua participação. Ganham vantagem os imigrantes que provêm da Lusofonia. Muitos residem também nas zonas rurais do concelho, perto das propriedades agrícolas onde trabalham. Aos fim de semana, muitos destes homens e mulheres chegam à cidade deslocando-se a pé.
Recordo, por outras razões, da importância de se estabelecer o princípio de criar e apoiar mediadores que sejam oriundos das mesmas paragens, que dominem minimamente o português, como ajuda fundamental para que o acolhimento seja facilitado e todos possam usufruir desta mais valia, desta força disponível de trabalho, que vem acrescentar valor, cor, trabalho, cultura, religiões, conhecimento e paz. ■

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