As administrações das nossas ferrovias, uma só chegava, custaram-nos no ano de 2010 a quantia de 1.323.607,00 euros. Feitas bem as continhas, em média, cada um, dos dez elementos, levou para casa, naquele ano, 26.536 contos. Obviamente que aqui não estão incluídas todas as mordomias que usufruem, como o custo de oito Mercedes E220CDI, um Volvo S80, um BMW 5250, embora ali conste o valor da renda/prestação anual da viatura de serviço. Acrescente-se que são administradores que não possuem acções da empresa nem tão pouco, qualquer um deles investiu ali um cêntimo que seja. A sua nomeação deveu-se à tutela, sem concurso, ao contrário do que pretende agora o actual primeiro-ministro que os lugares da Administração Pública sejam preenchidos segundo uma escolha “que seja muito para além da questão de confiança política e que envolva o mérito, independentemente da área partidária” dos candidatos. Achamos muito bem! Até que enfim… mas que os concursos não sejam só documentais. Podem aparecer diplomas passados no dia anterior…
Efectivamente precisamos de novos gestores públicos. Gestores com novas mentalidades, com novas ideias, com novas promessas de compromisso. Gestores que, não abusem das pessoas, não se sirvam dos bens de outrem por tributo ou usurpação, não se comportem como certos poderosos deste mundo que não têm respeito por ninguém fora do seu séquito. Que no exercício do dever que lhes foi confiado, nunca esqueçam que nas empresas públicas, sem lucro, quem os sustenta é o povo tributário, de quem eles se servem e escravizam a seu belo prazer, sem qualquer contemplação pelo seu bem-estar no futuro.
Mas como alguma coisa tem de fazer e para justificar que estão vivos e que zelam pelos seus próprios interesses acaba-se com a linha do Oeste, entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz, porque se diz só tem, em média, 57 passageiros por comboio. Privam-se, assim, as localidades, entre outras, de Louriçal/jMarinha das Ondas, Monte Real, Leiria, Marinha Grande, Martingança, Valado/Alcobaça/Nazaré, S. Martinho do Porto e Caldas, como restantes a Sul, para os passageiros que querem viajar no sentido ascendente.
Na situação de pobreza em que vivemos e na consequência de maior agravamento, (em que por razões sobejamente conhecidas, cada vez mais as populações tem de recorrer ao comboio a fim satisfazer as suas necessidades mais prementes), considerar apenas a rendibilidade local e não se fazer uma análise da exploração circunstanciada e equitativa a todas as vertentes, é atirar para o degredo da marginalização as pessoas do mundo rural, que ainda podiam ter alguma qualidade de vida. Se os pioneiros do caminho-de-ferro em Portugal assim pensassem e não tivessem em consideração o desenvolvimento e a consequente prosperidade das populações não se tinha construído um único quilómetro de ferrovia.
Quando se queixam da saturação das linhas suburbanas de Lisboa, onde muitas das vezes os passageiros têm de viajar de pé por falta de lugar, por conhecimento próprio podemos testemunhar da linha de Sintra e de Cascais. Será que têm de ser sempre os provincianos a pagar o bem-estar dos outros?
Melhor exemplo não podem ter e por serem tão funestos, como os custos agora suportados, e o empobrecimento, e consequente perda de qualidade de vida, tão amargamente sofrido pelas gentes que a linha da Lousã servia. Cometer o mesmo erro duas vezes para pessoas que se dizem de bem é demais! Mas como somos excepcionais dramaturgos e todos gostamos de participar na criação e no aprofundamento dos factos reais da desgraça, e deixar as nossas marcas nos palcos desta vida onde, outros, como angustiantes, sentidamente e penosamente interpretam o papel de vencidos nesta sinistra tragédia portuguesa.
Fernando Perpétua
































