A imprensa regional como baluarte da democracia local

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Paulo Ribeiro
presidente da Associação de Imprensa
de Inspiração Cristã

À beira de completar um século de vida, a Gazeta das Caldas continua a representar o que de melhor a imprensa regional portuguesa tem vindo a fazer em prol da comunidade. O seu sucesso, aos 96 anos, é o resultado da sua proximidade às pessoas que acompanha, no dia a dia, assim como das instituições locais.
É este processo de confiança, um contrato celebrado semanalmente de forma transparente com os seus leitores, que permite à Gazeta continuar a trilhar o percurso através de uma informação atenta, independente e focada na preocupação da construção de uma região mais solidária e esclarecida dos seus direitos e deveres. Em suma, num alto contributo na defesa da cidadania oestina.
No Ano da Imprensa Regional, celebrado conjuntamente pela AIC – Associação de Imprensa de Inspiração Cristã e pela API – Associação Portuguesa de Imprensa, com o patrocínio da cooperativa Visapress, é com muita preocupação que vemos o futuro da informação de proximidade, que tem nos jornais um baluarte da liberdade de informação.
Se o contributo da imprensa regional para a democracia local é reconhecido por todos como insubstituível, sendo a voz de quem não se pode ouvir, o certo é o que o seu futuro é incerto. Há concelhos que, infelizmente, já não têm o seu jornal, no que se traduz numa perda irreparável para as suas populações. Nunca como agora, a sustentabilidade deste setor esteve em tão grande perigo, com o surgimento de novas formas de comunicação, por via digital, em que todo o tipo de informação se mistura com conteúdos jornalísticos, de forma gratuita e sem a devida compensação financeira para o setor dos media.
É urgente que os poderes públicos olhem de frente o problema que já se arrasta neste sector há largos anos e que encaminha os media regionais para a falência. Longe vão os tempos em que as redações dos jornais e das rádios contavam nos seus quadros com diversos jornalistas. Presentemente são muitos os títulos que se viram obrigados a emagrecer os seus meios, devido à consequente redução de receitas. Há mesmo órgãos locais que presentemente não têm um jornalista ao seu serviço, o que era impensável há alguns anos. O que era um acesso privilegiado à carreira profissional por parte dos jovens estudantes que saem anualmente das faculdades, em que muitos depois transitavam para órgãos nacionais, não é mais que uma porta fechada, dada as dificuldades que presentemente se assiste no nosso país. Ao invés, os municípios, apetrecharam-se de quadros e de meios para os seus gabinetes de comunicação, para passarem para a opinião pública a sua mensagem – legítima – mas que não está sujeita ao escrutínio jornalístico.
Como mudar este paradigma? Cumprindo a lei! A imprensa, desde os seus primórdios, sempre foi financiada pelas vendas em banca ou por assinatura, mas, acima de tudo, pela publicidade. É a publicidade que é o principal suporte económico dos jornais. Ora, com a debilidade crescente do comércio local, a publicidade é o primeiro investimento a ser cortado. Daí que, cumprindo-se o que está escrito em lei há muito tempo, até por imposição comunitária, o Estado deve publicar – também em nome da transparência – a publicidade institucional a que está obrigado. Deve, também, permitir que a assinatura de um jornal possa ser deduzida em sede de IRS e a publicidade das empresas em sede de IRC. Que os Correios cumpram o seu compromisso público de assegurar uma distribuição dos jornais de forma atempada e razoável, como está contratualizado com o Estado. E que, no âmbito do combate à iliteracia mediática, seja posto em prática um plano robusto para o combate à desinformação, uma das principais ameaças da democracia.
Urge encontrar um equilíbrio que, no fundo, permita a justa remuneração dos editores de jornais e dos seus profissionais. No fundo, não pode haver jornalismo, sem jornalistas. É por isso imprescindível que os leitores continuem a apoiar o seu jornal, através da subscrição da assinatura ou da compra em banca e via digital. A democracia local consolida-se com o escrutínio permanente das suas instituições e dos seus representantes, o que só pode ser feito através de uma imprensa local forte e reconhecida pelos seus leitores.
Esse papel tem sido feito, no Oeste, pela Gazeta das Caldas. Missão que, estou certo, continuará a ser assumida com brio e convicção! ■

É a imprensa regional que faz o escrutínio da atividade das instituições públicas em nome da transparência

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