Joaquim Ribeiro
Diretor do jornal Badaladas
Em primeiro lugar quero saudar o jornal “Gazeta das Caldas” pelos seus 99 anos de publicação. Prestes a entrar no clube da imprensa centenária, este semanário caldense é uma referência na imprensa regional e local portuguesa e em particular da região Oeste. Pessoalmente tenho também uma relação afetiva, já que o meu primeiro curso de jornalismo aconteceu no CENCAL, durante três meses no verão de 1986, em que um dos organizadores dessa formação era – e é ainda – o diretor da “Gazeta”, o José Luís Almeida e Silva, que aproveito também para cumprimentar.
Relativamente ao futuro da imprensa em geral e em particular da regional e local, é, em boa verdade, uma enorme incerteza. As dúvidas são imensas. As pessoas são curiosas e irão continuar sempre a querer informar-se. Mas de que forma querem obter essa informação? Em que locais? Quanto é que estão dispostas a pagar por informação de confiança? Atualmente as respostas a estas perguntas são evidentes: as pessoas procuram informação em qualquer lugar que esteja facilmente acessível, que não exija muito esforço e de preferência que seja gratuita.
Sucede que uma informação de qualidade tem custos, que têm de ser pagos de alguma forma, usualmente através de vendas e de publicidade. Se os consumidores não estiverem dispostos a pagar por essa informação e se os anunciantes deixarem de investir em publicidade, o jornalismo perde qualidade e, em situação limite, deixa de existir. O espaço mediático fica então disponível para ser ocupado por informação gratuita, mas de baixa qualidade, de origem duvidosa e com objetivos obscuros. Quando a esmola é muita… o pobre desconfia. Ou devia desconfiar! Há muitos que o desejam, a campanha de descredibilização do jornalismo é muito forte e vem de vários quadrantes. É preciso resistir. A última palavra está do lado dos leitores, mas também de editores e profissionais e fundamentalmente dos anunciantes.
De todos os meios de comunicação, a imprensa é aquela que está mais fragilizada e ameaçada, porque a televisão e a rádio podem recorrer ao entretenimento para se financiar, ao passo que na imprensa é diferente, a sua génese é o jornalismo distribuído tradicionalmente em papel, que começa a não ser compatível com as novas gerações, mais digitais.
Apesar de tudo, a imprensa vai resistindo e a de cariz regional ou local parece ter uma resiliência maior, pelas suas características muito singulares: artigos com temas bastantes próximos do público e que não são alvo de atenção por parte dos meios nacionais, ligação afetiva com os leitores e anunciantes, venda essencialmente por assinatura que garante alguma fidelização, envolvimento com a comunidade e um forte vínculo com os emigrantes, entre outras.
Porém, a quebra nas vendas e na publicidade, embora a um ritmo mais lento do que se pensava, é um problema real. É uma espécie de “morte lenta, que vai corroendo os alicerces dos meios de comunicação impressos e a sustentabilidade dos mesmos é cada vez mais difícil, com prejuízos incalculáveis para os profissionais, para o público e para a própria democracia.
O que fazer, então? No fundo não há uma fórmula mágica, andamos todos a procurar a solução ideal e a testar alternativas. Será que o jornalismo continua a pagar-se a si próprio? Ou é necessário encontrar estratégias paralelas para criar receitas que financiem o jornalismo?
Quando se generalizou o uso da internet, imediatamente se condenou a imprensa ao seu desaparecimento rápido. Por qualquer motivo toda a gente passou a achar que os leitores de jornais iam todos mudar-se para o écran do computador, o que não se verificou de uma forma tão literal, nem depois quando o acesso passou a ser possível na palma da mão, nos smartphones.
O futuro deverá passar pelo digital, sem nunca perder de vista o papel. As receitas terão de ser diversificadas: direitos de autor; apoios públicos, através de publicidade institucional, bolsas de investigação jornalística ou financiamento de projetos; organização de atividades paralelas; para além das vendas e da publicidade, com diferentes formatos, de acordo com o tipo de meio usado, para fazer chegar a informação ao público (papel, site, e-mail, vídeo, podcast, etc.).
A internet é uma ferramenta orgânica, está sempre em evolução, desde os motores de busca à época dos blogues, depois as redes sociais e a possibilidade de trabalhar remotamente, uma capacidade de transmissão de dados cada vez mais rápida e agora a inteligência artificial. Tudo isto tem de ser olhado como uma oportunidade e não como uma dificuldade. Só precisamos de estar atentos e saber agir. Parece fácil!… ■

































