O Sr Fulano é casado com a Dona Beltrana. Conheceram-se bastante novos e logo reconheceram que era o casal perfeito. Partilhavam muitos gostos mas também muitas aversões. Casaram.
Vinham de famílias modestas e queriam subir na vida. Queriam ser ricos. Para atingir esse objetivo só conheciam uma forma: poupar e nada gastar. Para isso aferrolhavam todos os bens e não gastavam mais do que o mínimo necessário.
Vivem numa pequena quinta e da terra tiravam quase tudo o que comem. A horta enche-lhes a malga da sopa grossa, o pomar com seis árvores de fruta faz-lhes a sobremesa de todas as refeições. A Dona Beltrana tem o seu galinheiro, onde umas quantas galinhas cacarejam até acabarem na panela dos dias gordos, uns coelhos que o Sr Fulano esfola, aproveitando a carne para os poucos dias de mesa farta e até as peles curte para fazer mantas com que aquecem a cama.
Não querem ter filhos, pois como diz a Dona Beltrana, “Quem tem filhos tem “cadilhos” e por “cadilhos” quer ela dizer despesas. Uma vez por mês vão ao mercado da vila e vendem aquilo que conseguem tirar da boca para encher o mealheiro. O sonho de ambos é terem ouro. Nas noites mais frias aquecem-se a contar quantas peças de ouro seriam capazes de amealhar por ano e quantos anos seriam precisos para se considerarem ricos.
Nem um nem outro sabe quantas moedas de ouro seria necessário acumular no mealheiro para serem considerados ricos, e não podem perguntar a ninguém. No Banco não confiam, nem na família, muito menos nos vizinhos.
A roupa que usam para trabalhar, pois nunca saem para se divertir, está ponteada até que a primeira cor do tecido já se perdeu. Roupas gastas, da cor do pó da terra, que de vez em quando são lavadas com muito pouco sabão que eles mesmos fazem, com gordura de animais e umas ervas que colhem.
Um dia passou por ali um desconhecido. Tocou na porta e muito preocupada a Dona Beltrana foi abrir.
O desconhecido apresentou-se, tirando o boné e apertando debaixo do braço uma gorda galinha.
-O meu nome é Aparício. Sou de Aldeia-dos-Gordos, uma aldeia onde todos somos afortunados pela água de um rio que faz com que as nossos galinhas ponham ovos de ouro. Mas aqui a minha galinha, a Parda, parece estar entupida e não põe ovos há dois dias. Vou buscar o veterinário à vila. Mas se os senhores tivessem a bondade de me ficarem com ela, enquanto vou e volto, consigo andar mais depressa e assim trago logo ou o remédio, ou mesmo o veterinário comigo!
O Sr. Fulano tinha vindo também à porta e escutara as explicações do dito Sr Aparício.
Trocou um olhar com a mulher, um olhar de cobiça.
-Pois claro que lhe fazemos o favor. Deixe aqui a sua galinha que nós lhe damos algum milho para ela se acomodar ali naquele cesto, ao cantinho da sala.
-Cuidem-na bem, por favor! E não a deixem fugir. Ela está só habituada comigo e pode espantar-se com a minha ausência.
-Vá descansado, homem. A sua Parda fica aqui connosco que nem uma princesa. Mas já agora, diga-me:quanto custa uma galinha destas que põe ovos de ouro, lá na sua terra?
-Olhe que vale bem os dois porquinhos de engorda que vejo ali no seu quintal. Ou mesmo uma vaca leiteira mais o bezerrinho que espreito ali no seu campo.
-Mas então o Sr Aparício não disse aqui à minha mulher que, na sua aldeia, todos tinham uma galinha destas porque lá elas bebem água desse rio Douro que vos atravessa os campos? Porque não arranja outra galinha?
-Ah! -disse o Sr Aparício. Porque tenho grande amizade aqui à Parda, ela está comigo desde que me casei e a minha mulher é-lhe muito afeiçoada.
O Sr Fulano olhou com ar de gula para a mulher e fez-lhe um sinal impercetível.
-Olha Sr Aparício. Deixe aqui a sua galinha a descansar e leve aqueles dois porquinhos. Pode ser que o que a sua Parda precisa seja de uma mudança de ares e de comida. Pode ser que entretanto ela ponha os dois ovos de ouro que tem na barriga. O meu amigo passa por cá daqui a uns dias e fazemos a troca outra vez. Traz-nos os nossos dois porquinhos e nós entregamos-lhe a galinha.
-Obrigado , meu bom casal! Vamos fazer essa troca, que assim também economizo no remédio e no veterinário que é careiro.
E foi assim que o Sr Fulano e a Dona Beltrana se viram donos de uma galinha obesa,já velhota, que não punha ovos e ficaram aliviados de dois belos porquinhos! O Sr Aparício nunca mais apareceu!
A galinha dos ovos de ouro
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