Há uma crise na medicina moderna. A crise é o seguinte: as pessoas deixaram de perguntar “porquê”, e os médicos foram atrás.
Actualmente, a medicina dentária debruça-se sobre resolver os sintomas: fazer o dente parar de doer, reconstruir o dente que partiu, substituir o dente que se perdeu. Tudo isto, a tecnologia nos permite fazer cada vez melhor, e hoje poucos problemas há que não tenham solução.
O paciente chega à consulta, e o médico pergunta “o que o/a traz aqui?”. Não se pergunta, quando se vê a situação, o “porquê”.
Mas os porquês são importantes. Porque se o dente partiu, não irá partir outra vez? Se o dente doeu, não poderá doer outra vez? Se apagamos o fogo da floresta, mas não recolhemos o lixo, os restos de papel e os cacos de vidro, não vai o fogo aparecer outra vez?
Os porquês são importantes! “Os porquês são o que distingue os médicos dos mecânicos.”, disse-me uma vez um professor. Eu digo que ele estava errado – os bons mecânicos, tal como os bons médicos, não consertam só um carro. Eles buscam a razão pela qual o carro está a ter problemas. Estará a ser mal utilizado? Estará a ser bem arrumado? Terá os pneus correctos?
Uma das minhas personagens de ficção favoritas é o famoso Dr. House. Não era uma pessoa simpática, nem gostava particularmente de tratar os seus doentes, mas tinha uma coisa a seu favor: era obcecado pelos porquês, e graças a essa obsessão, conseguia ir muito mais longe do que os seus colegas.
Se há coisa que me entristece numa consulta é quando alguém se volta para mim e diz, conformado: “Os meus dentes sempre foram assim, doutor.” Ou então: “Isto já é de família. Os meus dentes não prestam.”
Porque é que os dentes dão problemas? Há toda uma sequência lógica de observações e ideias que nos podem levar a chegar à resposta.
Desde stress, a problemas musculares, a uma má posição de dormir, a outras doenças por detectar, passando até pela alimentação… Os dentes são uma parte integral do nosso corpo, e o que lhes acontece depende muito mais do que do número de vezes que escovamos os dentes e da quantidade de pastilhas elásticas que comemos!
São raras as pessoas que nascem com o destino de ter “dentes maus”, e normalmente essas pessoas sofrem de muito mais do que os dentes. Não, os dentes sofrem porque há um outro problema por detrás. E o primeiro passo para o encontrar?
É perguntar “porquê?”.
Luís Falcão de Magalhães
luis.falcao.magalhaes@gmail.com
































