A Exaustão Silenciosa do Empreendedor

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Rui Vieira
Gestor

Em tempos onde o ritmo acelerado se tornou o comum, somos, muitas vezes, obrigados a assumir o cansaço como um estado natural da vida moderna.
Este é o cenário pintado por Byung-Chul Han na sua obra “A Sociedade do Cansaço”, nesta obra o autor descreve uma sociedade que constantemente ultrapassa os seus limites, pressionando-se para ser produtiva e eficaz, independentemente das consequências.

Foi com este tema na cabeça que, numa manhã recente, me sentei para um café com o meu amigo Nuno, um empreendedor da nossa cidade com três décadas de experiência. A relação entre nós é construída numa base de respeito profundo e compreensão mútua. O Nuno, com os seus anos de sabedoria, não sente a necessidade de impressionar. Pelo contrário, partilha comigo as suas vulnerabilidades, algo que só aprofunda o meu respeito por ele. Sempre que ele menciona os seus desafios, é como se me desse permissão para também reconhecer os meus, e com isso encontro uma nova forma de olhar para as dificuldades.
“Tenho andado cansado, Rui,” disse ele. “Talvez este seja o preço de carregar as rédeas durante tanto tempo, sem nunca ter parado para delegar certas áreas.” Confesso que, à primeira vista, fiquei surpreendido. Pensei que, com a experiência que possui, o Nuno já tivesse encontrado uma maneira de superar o peso do dia a dia. Mas a verdade é que o cansaço, não me atinge só a mim, também atinge até os mais sábios, e talvez, até mais profundamente.
Lembro-me de uma citação de Martin Luther King que sempre me inspirou: “A medida última de um homem não é onde ele está em momentos de conforto e conveniência, mas onde ele se encontra em tempos de desafio e controvérsia.”
A jornada do Nuno exemplifica esta ideia. Ele carrega consigo a coragem de expor os desafios e, ao fazer isto, ilumina o caminho para todos nós. Acredito que, no final, é através dos fracassos e das quedas que criamos uma verdadeira conexão com os outros. Quem nunca experimentou a falha parece estar distante da realidade, e é por isso que são as quedas e os tropeços que nos unem enquanto comunidade. ■

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