A Condição de Desespero: Filosofia e Existencialismo

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Guilherme José
livreiro “malfeitor”

Nas aulas de Ortega y Gasset, podemos encontrar uma passagem na qual o próprio define o animal como adaptado, porquanto o animal coincide com o seu elemento, enquanto o Humano é inadaptado, entenda-se, está continuamente aberto às possibilidades de si. O Humano é um ser-aberto que se angustia perante a sua capacidade em conseguir apreender aquilo para o qual está aberto: nós possuímos consciência da realidade enquanto si mesma; e, por isso, segundo Kierkegaard, somos suscetíveis de desesperar, e definitivamente desesperamos, sempre que nos apercebemos da nossa condição de alteridade constante, a mesma que nos define enquanto seres sujeitos a uma possibilidade irrealizável.
No entanto, nós temos uma pressuposição de sentido, e tanto a temos que a procuramos continuamente. Mas essa só poderia ser concretizada ou satisfeita se conseguíssemos albergar em nós alguma permanência, algo que não estivesse entregue a circunstâncias de mudança, e essa instância não é possível de ser encontrada porque toda a nossa natureza está entregue a uma lógica de devir.
Agora, se a nossa existência está pautada pela mudança, e isso é o resultado de estarmos inseridos numa estrutura temporal e espacial, então, de onde provém a nossa ânsia por uma permanência, sendo que não temos como conhecê-la? É aqui que nasce a teoria, provinda de alguns Filósofos, mas, maioritariamente, Teólogos, ao entenderem a nossa existência como um processo de desarmonia entre nós e o mundo.
Podemos compreender, portanto, que, ontologicamente, na constituição do nosso Ser, sentimos a falta de Deus – entendendo Deus, como Eternidade (permanência) – e vivemos na angústia resultante dessa perda de participação na Eternidade. Tudo o que sabemos é que ao pressupormos um sentido, esse mesmo sentido nos é vedado, porque a nossa Natureza se encontra impossibilitada de aceder ao mesmo. Então, o que em nós participa na Eternidade, ou pressente um sentido, não é a nossa Natureza, pois essa é vista como corrompida.
Claro que esta temática merece um aprofundamento bem maior. As questões que deixo para reflexão são as seguintes: o que há em nós, que nunca nos foi dado pela experiência da existência, e ainda assim, não deixamos de intuir? Se entendermos que só a Natureza existe, e vivermos de acordo meramente com a realização da mesma, então, como justificaremos o desespero? ■

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