A semana do Zé Povinho

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Gazeta das Caldas

3-AntonioPecaBordallo copySe o meu criador, Rafael Bordalo Pinheiro ressuscitasse, decerto que encontraria no cartoonista António, do semanário Expresso, um verdadeiro seguidor, ainda por cima com uma imensa modéstia que traz consigo.
No passado mês, foi apresentado na Casa da Democracia Portuguesa uma colecção de cinco caricaturas de personalidades nacionais e internacionais relevantes em cerâmica, realizadas nas Faianças Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha, que ele intitulou “Os Figurões”.
Com a projecção nacional e internacional que o cartoonista António tem, esta iniciativa que foi proporcionada por esta secular fábrica caldense, vai renovar e reforçar a imagem da cerâmica local e o prestígio que granjeou quando o seu fundador e o seu filho foram vivos e realizaram alguns dos trabalhos em cerâmica mais afamados em Portugal.
Zé Povinho tem um particular carinho pelos caricaturistas e cartoonistas portugueses e internacionais, alguns que têm pago com a vida a sua irreverência e a sua mordacidade.
Uma sociedade só é verdadeiramente livre e democrática quando se consegue rir de si própria e dos seus maiores, esquecendo ou deixando para as trevas do esquecimento, aqueles que se pensam os “donos disto tudo”, ou os donos de toda a verdade.
Mesmo que certas vezes possam parecer injustas, as críticas e especialmente as caricaturas, devem sempre ser aceites de bom grado pelas suas “vítimas”, que, se tiverem bom senso e razão, podem contar com o esquecimento nos tempos seguintes.
A experiência diz que só perduraram na memória colectiva as caricaturas que o tempo veio a confirmar a sua oportunidade e sinceridade, pelo que os injustamente criticados não têm nada a temer.
António, com o mérito do seu traço e o olhar perspicaz das situações que retrata, mostra a grandeza do seu trabalho que se iniciou, ironicamente, no dia do golpe das Caldas (16 de Março de 1974) no jornal A República. Zé Povinho considera-o como um dos seus e tem-no como um amigo dilecto.

CMCR-cores copyZé Povinho tem o maior respeito e consideração pelas ambições das populações, especialmente por aquelas que vivem em meios rurais de pouco dimensão e quase ao abandono pela grande cidade.
As últimas décadas têm sido madrastas para muitas das povoações rurais em Portugal, cuja desertificação tem aumentado progressivamente e criado cada vez mais situações de completo abandono. Na região Oeste e no concelho das Caldas este abandono é minorado com a vinda de novos habitantes, geralmente de um nível social mais elevado, frequentemente estrangeiros, que têm meios de movimentação que lhes permitem o acesso rápido aos centros de maior dimensão, não lhes limitando a mobilidade, mas também muitas vezes limitando a sua participação mais intensa na vida comunitária.
Por outro lado, muitos hábitos e tradições locais que eram vivenciadas pelos habitantes dessas povoações foram-se perdendo, matando muitas das iniciativas que eram comuns à população mais idosa, que também já não pode animar as suas terras.
Não querer ver este fenómeno e insistir em repetir e mimetizar em todo o lado o que algumas povoações têm de infra-estruturas, sem perceber a tendência inexorável do futuro que se aproxima, leva a gastos desnecessários que a prazo se tornam inviáveis e sem meios para se manterem.
É o que sucedeu nos últimos trinta ou mais anos com muitos dos investimentos nas infra-estruturas desportivas do concelho (e infelizmente do país), que depois de gastos muitos milhares de euros dos impostos dos portugueses e dos europeus, ou mesmo das contribuições dos próprios utentes, estão ao abandono.
Não é só a falta de gente e de motivação para os manter e utilizar. Também é a falta de uma organização concelhia e de técnicos que possam dar vida a essas instalações ou campos desportivos. Nos casos onde acontece vida e pessoas, encontram-se sempre alguns carolas, mas também especialistas e técnicos que sabem o que querem e como devem captar os interessados na respectiva utilização.
Zé Povinho podia enumerar uma série de responsáveis por todo este quase descalabro total, mas para a culpa não morrer solteira, talvez seja de imputar a todos os potenciais utentes e responsáveis pela situação que esta semana se pode ler na Gazeta das Caldas. Fica o alerta e quando se fala no lançamento de novos projectos, será de fazer uma singela pergunta: O projecto tem viabilidade, sustentabilidade e público? Porque se não for assim, são os impostos de todos os que estão a arcar com essa responsabilidade!

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