Recuperação urbana

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A crise económica deixou marcas bem evidentes na nossa cidade. O tecido urbano apresenta cicatrizes, fruto da insolvência e da brusca paragem da construção civil. Um pouco por toda a cidade ficaram por concluir edifícios de grande volumetria ou empreendimentos com vários imóveis.
A imagem de uma cidade com prédios por acabar é tão desoladora e inestética como demonstrativa do seu imobilismo demográfico ou económico.
Demoramos a sentir os efeitos da recuperação económica e normalmente cada crise traduz-se numa regressão estrutural para cada cidade de província. Nunca recuperamos totalmente dos efeitos de uma crise ou de uma mudança estrutural, seja o advento de novas vias no eixo Norte-Sul, seja do aparecimento de centros comerciais de grande dimensão nas capitais de distrito e dos hábitos de compra, seja na deslocalização de uma empresa ou do fim de um sector industrial.
Mas a mudança pode trazer também oportunidades e foi com um laivo de esperança que li na Gazeta das Caldas a reportagem sobre a recuperação do empreendimento agora denominado “Caldas Terrace”, situado na rotunda diante do antigo edifício EDP que no futuro albergará o novo Hospital do Montepio, uma notícia que deve encher os caldenses de jubilo e orgulho.
O empreendimento, uma dessas cicatrizes que marcam a nossa cidade, tanto mais que se situa numa das suas entradas nobres, foi adquirido por um fundo imobiliário e será integralmente recuperado até ao primeiro trimestre de 2020, oxalá o ritmo de pré-vendas o permita.
Os seus promotores partilharam que têm tido uma boa receptividade nos mercados de Angola e Brasil. Veja-se a nuance, não referem compradores angolanos e brasileiros mas os mercados de origem de eventuais investidores. Isto pode significar que a intenção dos compradores será de investir no mercado imobiliário caldense por razões diversas e não para aquisição de morada própria.
Esta é uma operação muito habitual nas cidades de Lisboa e Porto que faz desenvolver o mercado de arrendamento. Muitas habitações na zona do Parque das Nações pertencem a cidadãos de várias nacionalidades e particularmente da China, Brasil e Angola que as adquirem não para morada própria mas como investimento ou para obter o visto Gold.
Será uma boa notícia para a cidade que esse investimento chegue até nós e permita recuperar os edifícios inacabados, já que para alojamento local a procura pelos investidores se dá mais para edifícios mais antigos e no centro histórico. Será uma possível oportunidade para reactivar o mercado de arrendamento que carece de maior oferta por forma a satisfazer tão grande procura, sobretudo por parte de estudantes e profissionais de colocação precária, e fazer baixar, por essa via, o preço dos arrendamentos que começa a tornar-se incomportável para a capacidade económica de quem pretende casa na nossa cidade.

Paulo Caiado
prcaiado@gmail.com

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