Não sei se estou desiludida (só se desilude quem tem ilusões e eu já tenho poucas), mas estou triste e até zangada com a classe a que pertenço, ainda que os meus motivos não sejam apenas relacionados com o dia de hoje — dia de greve.
O que é que vos deu para comparecerem massivamente ao “toca a reunir” do governo a fim de vigiarem os exames de Português e Latim?!
Não sendo esta uma tarefa vossa, não possuindo as chamadas “competências” (palavra tão querida do léxico da Educação) porque não frequentaram a reunião de vigilantes em que somos bombardeados com todas as regras e normas (e da qual saímos com a sensação de que podemos falhar alguma delas), repito, o que é que vos deu para boicotarem a “minha” greve?!
Nunca me insurgi contra qualquer colega que não tenha feito greve no passado; já houve greves que não fiz e não estou arrependida, porque só serviam para o governo ficar com o meu dia de salário e eu iria ter que repor as aulas noutros dias….
Mas esta situação, em que os vossos colegas do terceiro ciclo e do secundário iriam fazer maioritariamente greve, não vos passou pela ideia que, mesmo não querendo aderir à greve, outros valores, mais altos, se sobrepunham?
Lembrar-me eu que nas maiores manifestações de professores realizadas foram, precisamente, os professores do primeiro ciclo e educadores que estavam “de pedra e cal” a insurgirem-se contra todas as medidas que aí vinham….
Porque é que os professores do primeiro ciclo continuam a ser os “professores primários” com aquela mentalidade “muito do lado do poder, do lado de quem manda”, seja lá quem for?… São sempre um bom instrumento de manipulação e de divulgação do modelo vigente, sempre muito catequizados na ideologia dominante, seja ela qual for… Foram por isso um instrumento privilegiado da propaganda do Estado Novo, que os explorou como a nenhuma outra classe…. Volvidos 39 anos de regime democrático, vejo que pouco mudaram …
É pena… tenho mesmo muita pena….
Espero que não durmam descansados esta noite… Espero que fiquem desassossegados o suficiente para terem algum pudor em repetirem tal proeza, no futuro…. sim, no futuro porque isto não vai terminar aqui…
Mas se não conseguirmos mudar as decisões do governo quanto ao nosso futuro porque nos mostrámos, mais uma vez, desunidos, então espero que as 40 horas, as turmas de 30 alunos e a mobilidade/requalificação vos pesem mais do que a mim.
Espero que o exame seja impugnado já que sofre de uma série de irregularidades e, nesse caso, pouco vos serviu terem-se apresentado ao serviço e terem-nos dividido (felizmente que os “estragos” a nível nacional foram suficientes).
Na manifestação de sábado passado uma das palavras de ordem era “professores unidos, jamais serão vencidos”…. vamos ter que a substituir pela realidade do dia de hoje — “professores unidos, jamais”…
Cristina Mendonça de Sousa

































Educação para a cidadania…