“Passamos por eles e nem os vimos”

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Correio dos LeitoresUm novo dia, uma nova história, uma nova vida. Estou aqui não para falar de mim, não para falar do mundo, mas sim para falar do Natal de uma rapariga, a quem nem o pior problema fazia chorar. Achava o Natal algo estúpido, dar presentes aos outros, nem acreditava no “menino Jesus”. Para ela, esta época não passava de uma perda de tempo e de dinheiro. As suas noites de Natal eram passadas a ler um livro, ao pé da lareira, sozinha, sem nada e sem ninguém. Mas como tudo e todas as pessoas mudam, houve um dia em que tudo mudou, levou tempo, mas mudou….

O despertador tocou, estava na hora de levantar. Não lhe apetecia, estava frio, mas tinha de ser. Esta rapariga acordava todos os dias a falar consigo própria, no fundo sentia-se só, mas não o dizia. A sua vida era muito rotineira, acordava, vestia-se, ia de carro para o trabalho, estacionava sempre no mesmo sítio, enfim… um tédio. Até que um dia ao estacionar o carro, viu um homem com duas crianças a dormir num banco de jardim. Pela primeira vez houve algo que a fez parar e olhar.
– Meu Deus! O Natal está a chegar e estas crianças aqui! – disse ela baixinho e com uma lágrima ao canto do olho. – Então Ana, o que é que se passa contigo? – pensou ela.
Foi para o trabalho, mas não mais deixou de pensar nas crianças. Quando estava a voltar para casa viu umas pessoas a dar cobertores e sopas aos sem abrigo e lá estavam, novamente, o pai e as duas crianças. Com os olhos rasos de lágrimas, foi para casa, quase não via o caminho. Limpou os olhos à manga da camisola e lá seguiu viagem.
No outro dia, quando chegou ao trabalho uma das crianças já estava acordada.
– Olá – disse-lhe a criança a medo.
– Olá – disse-lhe Ana, baixando-se para ficar do tamanho da criança. – O que estás aqui a fazer? – perguntou.
– Agora esta é a minha casa – disse – Olha, eu tenho muita fome!
– Oh! Pequenina!! – disse Ana, chorando. – Mas o que é isto? Desculpa-me.
– Não faz mal, são lágrimas. Eu também choro como todas as pessoas, não te preocupes com as lágrimas. O meu pai diz que lavam a alma!!
Ana pegou no seu almoço e deu-o à menina. Despediram-se com um forte abraço. Ana continuou e foi para o trabalho pensando: “Nunca vi o que estava à frente dos meus olhos. O mundo está cheio de pessoas que nada têm”.
No dia seguinte, Ana não viu a família, mas de repente ouviu um grito. Era a menina. Agarrou-se de imediato ao seu pescoço chorando. Naquela noite, um automobilista desgovernado chocou contra o banco e a sua irmã e o pai partiram para junto de Deus. Ana abraçou a menina e jurou que a protegeria para sempre. Dirigiu-se à polícia e contou toda a história. Decidiram que a menina teria de ir para um orfanato e, se Ana quisesse, que pedisse a custódia. Voltaram a abraçar-se. Choraram. Ana voltou a prometer: – Aqui não ficas, venho buscar-te.
O tempo foi passando, chegou um novo Dezembro. Perto do Natal, a notícia mais esperada chegou.
Ana foi buscar Maria, nome que escolhera para a menina. Passearam pelo parque, pularam de alegria e Ana percebeu que o Natal não se resume às prendas, mas sim ao Amor!
Ana aprendeu muitas coisas nos últimos tempos. Aprendeu que o Natal é uma época de Amor, solidariedade, ajuda aos outros, que chorar faz bem e, acima de tudo, aprendeu que não é o mundo que nos faz, mas sim nós que o fazemos!

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